sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Resenha - Cat - Um jogo onde os heróis são gatos!

Eu estava em casa, assistindo a transmissão de uma partida de Fiasco em 3D no micro-ondas novo que minha esposa comprou. Quando eu viro para pegar meu copo e dar um gole no suco de chocolate com frango que eu nem sei como fiz (mas estava um delícia), LeBron, um dos gatos que mora conosco, olha para mim e diz:

- Não sei como você gosta disso. Frango eu entendo, mas chocolate - e ele pula para o topo do micro-ondas me olhando com seus grandes olhos amarelos.

- Você está falando comigo? - fico um tanto perplexo de ouvir meu gato falar - Peraí, isso é um sonho, certo?

- Sim, mas isso não quer dizer que não seja real - ele responde, como se fosse tudo muito lógico.

A partir daí, um diálogo muito estranho ocorreu entre nós dois. Segundo LeBron, ele fala comigo quase todas as noites, todas as que ele consegue me achar no Reino dos Sonhos (parece que isso existe), mas eu nunca lembro. De fato eu quase nunca lembro dos sonhos que tenho, mas pelo que fiquei sabendo, a maioria das pessoas também não.

Ele me contou uma história um tanto curiosa. A cada mil anos, ocorre um grande torneio no mundo dos sonhos e todos os seres vivos são convidados a participar. Há milênios, no entanto, a raça dos homens sempre fica em último, pois são muito fracos no mundo dos sonhos e os gatos são sempre os primeiros (o que deixa os cachorros um tanto invejosos). Mas ser o vencedor trás responsabilidades. Os gatos devem proteger nós humanos daquilo que não conseguimos mais ver, os monstros. Ele disse, também, que vem fazendo isso desde que chegou mas, agora, um monstro muito forte tinha aparecido. Ele precisaria da minha ajuda.

Cat (ou Gato) é um RPG escrito por John Wick, o mesmo criador de Shotgun Diaries, Legend of Five Rings e dezenas de outros grandes jogos. É um jogo simples, divertido e mágico, onde os jogadores interpretam gatos que protegem seus donos e vizinhos de monstros, fantasmas e outras criaturas sobrenaturais que os homens não conseguem ver. Você já se perguntou porque os gatos as vezes agem de forma estranha? Pois bem, essa é a explicação.

O livro tem 46 páginas em preto e branco (a edição revisada e expandida). O design é bem simples e as ilustrações também (acho até que merecia um redesign completo). Mas o forte do jogo não é a aparência, mas eu conceito e simplicidade.

A ambientação é basicamente esta: A cada mil anos acontece um torneio no Reino dos Sonhos onde todos disputam para ver qual dos seres vivos é o mais forte naquele mundo (que é o mundo que importa). Há gerações os gatos sempre ganham o torneio e os homens sempre terminam em último. Assim, os felinos sçao agraciados com graça, agilidade, beleza, poderes mágicos, nove vidas e domínio sobre a matéria no mundo dos sonhos, mas eles também recebem responsabilidades. O vencedor do tornei deve proteger o último colocado, no caso, nós, de criaturas chamadas de "Boggins" e outros seres sobrenaturais que os humanos não conseguem ver. Esses monstros se fortalecem nos enfraquecendo e tomam formas diferentes dependendo do que nos fazem sentir. A preguiça é uma grande aranha gigante que nos envolve em uma teia e nos prende no sofá em frente à TV, o pessimismo é um diabinho verde que fica no seu ombro dizendo que tudo vai dar errado, e por aí vai. A missão dos gatos é nos afastar dessas criaturas, seja no mundo real ou no mundo dos sonhos, seja com suas garras e presas ou a magia de seus rabos ou com a ajuda de outras criaturas fantásticas ou nem tão fantásticas como cachorros.

Quanto ao sistema, ele é bem simples e intuitivo. Ele é bem como os sistemas antigos e não entra em minúcias sobre tudo o que pode acontecer, deixando na mão do mestre as decisões caso algo inesperado ocorra e ele tenha que improvisar. Mas, como disse, o sistema é bem intuitivo e simples, fazendo com que isso seja até libertador. Aliás, o próprio John Wick isentiva que as pessoas criem house-rules para adaptarem o jogo a seu gosto ou até mesmo que joguem Cat com outros sistemas. Mas vamos às especificidades. O jogo utiliza apenas dados de seis faces, que são rolados quando se tenta fazer algo que normalmente gatos tem dificuldade em fazer. Sucessos são obtidos quando o resultado é um número par e, por consequência, ímpares são fracassos. Dependendo da habilidade sendo testada os jogadores podem rolar diversos dados (geralmente de 3 a 6) e as dificuldades variam entre fácil (1 sucesso), moderada (2 sucessos) e difícil (3 sucessos).

Os gatos possuem, essencialmente, seis atributos: Pelo (Coat), que serve para absorver dano e interações sociais; Pernas (legs) que servem para correr, pular e movimentar-se; Garras (Claws) que servem para escalar e atacar; Rosto (Face) que serve para perceber o mundo e é usado como percepção; Presas (Fangs) que é usado para carregar coisas e morder; e Cauda (Tail) que é usado para fazer mágica e manipular os sonhos. Cada uma dessas características recebe um valor de 3 a 5 (o número de dados que podem ser rolados) de acordo com a escolha na criação do personagem. Além disso os gatos possuem reputações, que pode ser usadas para auxiliar qualquer um dos atributos, se a reputação fizer sentido. Assim, se um gato possui a reputação de ser um Escalador de Árvores, toda vez que ele for escalar uma árvore ele vai testar as suas Garras somadas ao valor de sua reputação.

Além disso, os gatos tem o poder de usar magia (ou truques). As magias do gato são focadas em furtividade, agilidade e percepção. Eles podem desaparecer em um piscar de olhos, entrar em um frenesi de garras e presas,  mover-se em total silêncio (passado por cima das pessoas em acordá-las) e encontrar pessoas no mundo dos sonhos. Esse poder também permite que eles tenham certo controlo sobre as coisas no Reino dos Sonhos, podendo alterar a realidade de lá.

Os inimigos e outras criaturas na história funcionam de forma similar. Eles possuem atributos como os gatos, mas os atributos podem ser diferentes. Em regra geral, quando disputam algum teste, o gato sempre ganha os testes que ele possui o atributo e o inimigo não, mas o contrário também vale. Ou, um último recurso, é usar Pernas para correr e fugir. Os "Boggins" que são os inimigos principais, que se alimentam da vida dos homens, ficam mais fortes quanto mais tempo eles sugam a vida das pessoas e isso é refletido nas suas características. O livro apresenta alguns tipos dessas criaturas, mas você pode facilmente criar outras.

Há, também, capítulos dedicados especialmente ao narrador, onde o autor dá algumas dicas de como narrar no mundo dos sonhos (que não precisa fazer algum sentido, desde que passe uma sensação onírica), de como narrar envolvendo as pessoas, de como jogar com crianças (e Cat é um ótimo RPG para isso) e ainda apresenta algumas idéias para aventuras e cenários alternativos como Egito Antigo, Navios Piratas, Naves Espaciais e nas crônicas de H. P. Lovecraft. Por fim, um capitulo muito interessante sobre fatos e folclores envolvendo gatos. É um bom lugar para tirar algumas idéias para histórias e saber mais sobre esses felinos fabulosos.

O livro pode ser comprado na RPGNow por apenas 5 dólares, uma bagatela, não é? Ele faz parte de um projeto do John Wick chamado Big Book of Little Games, que será vendido por 35 dólares e terá uma penca de jogos legais.

Aproveito para dar uma dica. Não há distinção entre raças de gatos. Um gato persa e um vira-lata são tão bons protetores como qualquer outro gato. Então sem preconceitos, hein? E você, tem um gatinho te protegendo em casa? Não? Por que não adota um? Eu adotei e não me arrependo. O vídeo abaixo foi minha esposa que fez em comemoração ao primeiro ano que LeBron, Violeta e Pérola completaram ao nosso lado, nos protegendo.



Se você não sabe onde adotar, aí vão alguns sites de organizações que podem te ajudar a encontrar seu guardião:

Gato Carioca - Para as pessoas do Rio de Janeiro e arredores.
Confraria de Miados e Latidos - Para as pessoas da Grande São Paulo e Nova Friburgo-RJ.

Quem souber de outros sites em outras regiões do Brasil pode postar nos comentários que eu adiciono!

2 comentários:

  1. Gostei da idéia do jogo e o vídeo fechando a reportagem está lindo!

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    1. Que bom que gostou!

      No evento do Sai da Masmorra em fevereiro devo narrar uma mesa de Cat. Se quiser conhecer é só passar lá! :)

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