segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ano Novo, Jogo Novo - Terra de Santa Cruz

Pedro Henrique estava apreensivo. Já fazia alguma horas desde que enviada Aruanã a frente para verificar a trilha pela mata. Eles não podiam demorar muito, a carta que receberam do Padre Antônio parecia urgente. É claro que não acreditavam em tudo que estava escrito, mas o jesuíta soava muito nervoso e pedia por ajuda.

Quando a noite chegou e nenhum sinal do índio foi visto, o grupo decidiu procurá-lo na mata. Com lampiões acesos e Mosquetes a mão eles prosseguiam atentos. A vegetação era muito fechada naquela região, e um nuvem de insetos dificultava a visão de todos. Após cruzarem um pequeno riacho que corria para o sul, eles viram a sombra de um homem no alto de uma árvore. Podia ser Aruanã, como podia não ser também.

Pedro Henrique, o capitão do grupo, ordenou que todos se espalhassem ao redor da árvore, queriam ter certeza de que não havia mais ninguém por ali e que estavam preparados para um eventual confronto. Quando finalmente se deram por satisfeitos, um deles se aproximou do homem para vê-lo melhor e ficou paralisado. Apenas gaguejou algumas palavras incompreensíveis até que engoliu a seco, fez o sinal da cruz e chamou pelo capitão. Quando ele olhou para cima, viu o corpo de Aruanã, com a pele virada ao avesso até o pescoço, porém com o rosto intacto, numa expressão de medo nunca antes vista. Que tipo de monstro teria feito aquilo?

No início de janeiro eu fiz uma postagem falando sobre o desafio lançado pelo pessoal do Gnome Stew, o "Ano Novo, Jogo Novo" (New Year, New Game). Para quem não sabe, trata-se de uma iniciativa que visa a incentivar pessoas experimentarem novos jogos e maneira diferentes de jogar os jogos que elas já jogam. Além disso eles estão promovendo um desafio onde os participantes desenvolvem propostas de novos jogos que devem funcionar como um chamariz, falando sobre o que é o jogo, porque ele é interessante e especial, qual seria o sistema utilizado (justificando a escolha) e os desafios da proposta. Bem, essa postagem é para eu fazer a minha proposta. Ela é baseada no antigo "Desafio dos Bandeirantes", principalmente, mas terá pitadas de Dragon Age e Mouse Guard e The One Ring.

Terra de Santa Cruz - Uma terra de mistérios, magia e descobertas.
A Terra de Santa Cruz foi descoberta a mais de cem anos, porém continua uma terra largamente inexplorada, cheia de riquezas, lendas e mistérios. Exploradores do Velho Mundo ao serviço de Reis, Companhias de Comércio, e outros interesses dividem espaço com Jesuítas de uma igreja decadente; índios de diversas tribos, algumas hostis, outras pacíficas e outras que ainda não fizeram uma escolha; Negros trazidos de outro continente como escravos mas que conquistam seu espaço no novo mundo com garra, vontade e suor; e diversas outras criaturas fantásticas que deveriam ser apenas lendas, mas são tão reais quanto eu e você. 
É uma terra de aventuras, descobrimentos e exploração. Lendas sobre cidades perdidas feitas de ouro puro atraem centenas de pessoas para o interior dessa terra para nunca mais serem vistas. Colônias Jesuítas desaparecem no meio da mata após passar meses com uma pacífica tribo indígena. Bandidos, piratas e charlatões fogem do Velho Mundo para tentar a sorte na Terra de Santa Cruz, mas geralmente encontram um destino muito mais sombrio do que uma sela no fundo de uma masmorra. 
Terra de Santa Cruz é um local cheio de oportunidades para aventuras, mas também repleta de riscos e mistérios. Ela é baseada em uma versão fantástica do Brasil Colonial, onde criaturas fantásticas, magia e misticismo são reais. Onde os personagens dos jogadores são exploradores do velho mundo, índios da nova terra, jesuítas a serviço da fé, escravos negros em busca de liberdade ou mestiços divididos entre dois mundos diferentes. 
É, também, um jogo ao mesmo tempo fantástico e familiar, já que é inspirado em nosso passado e cultura. Onde ao mesmo tempo somos surpreendidos e reconhecemos elementos da história. História essa parecida porém não igual à nossa, que tem diversos elementos mais sombrios, mágicos e misteriosos. A magia existe, funciona e é utilizada tanto pela Igreja Católica como pelos feiticeiros negros e pajés indígenas. As instituições não são nobres e justas, mas geralmente corruptas e tem interesses totalmente diversos daqueles que retrata para o público. Enfim, é uma versão sombria, mística e terrível do nosso passado. 
Para tornar possível as aventuras na Terra de Santa Cruz, pretendo utilizar, essencialmente, o sistema AGE (Adventure Game Engine), que tem como seu principal representante o RPG do Dragon Age. Porém, além disso, pretendo utilizar algumas mecânicas e elementos do Mouse Guard RPG e The One Ring. O objetivo é aliar a eficiência e simplicidade do AGE com a mecânica narrativa do Mouse Guard e do The One Ring. 
Os maiores desafios dessa empreitada será adaptar esse mundo fantástico e rico para o sistema AGE e convencer pessoas a jogarem. Apesar de ser uma ambientação sensacional e cheia de oportunidades para desenvolver grandes histórias, a maioria está mais interessado no feijão com arroz de ambientações típicas de fantasia medieval. Mas como bom bandeirante, não devemos desistir. A Terra de Santa Cruz precisa de heróis, será que você é bravo o suficiente para ajudar?
Durante as próximas semanas eu vou publicar outros artigos sobre a minha adaptação de Terra de Santa Cruz. Ela certamente foi inspirada no trabalho dos autores do "Desafio dos Bandeirante" (Carlos K. Pereira, Flávio Andrade e Luiz Eduardo Ricon), mas não se limitará a ele. Cada vez mais venho conhecendo diversos jogos e ambientações, e a experiência que tenho tido em cada um deles irá influenciar todo o trabalho que farei. Mas, desde já, agradeço eles por terem me introduzido a esse mundo fantástico muito parecido com o passado de meu pais mas, ainda assim, totalmente diferente e surpreendente.

2 comentários:

  1. Nunca tive a oportunidade de conhecer o Desafio dos Bandeirantes e gostaria muito de jogar algo do nosso rico folclore. Aguardo pelas próximas postagens, boa sorte na tua proposta e torço para que ela vingue!

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    1. Pô, é muito legal, eu pelo menos me amarrava, e agora que aprendi um tanto mais sobre histórias vejo que é um cenário muito rico. Abrindo o livro para começar a me inspirar para esse novo jogo percebi que meu livro é autografado pelos autores, me senti segurando uma raridade.

      Pode esperar que já já começo a adaptação. Pretendo mestrar uma mesa no Sai da Masmorra de março e quem sabe no World RPG Fest de curitiba no meio do ano.

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