terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pensamentos Sobre Nomes de Personagens

Há alguns meses atrás eu li um artigo no blog Big Ball of No Fun (muito bom diga-se de passagem) que falava sobre nomes dos personagens dos jogadores. Ele questionava o por quê dos jogadores terem a possibilidade de escolher o nome dos seus personagens, se eles mesmos não puderam escolher seus próprios nomes. Isso me pareceu um tanto radical, apesar de fazer algum sentido. Os personagens são criação dos jogadores e eles deveriam ter direito de criar o nome deles também, certo?

Certo, mas vamos pensar um pouco mais sobre o assunto. Atores interpretam personagens de maneira que, muitas vezes, eles são tão criadores dos mesmo quanto os autores do roteiro. Eles criam a maneira como o personagem fala, se veste, se expressa e as vezes mudam suas falas e cenas, mas, mesmo assim, eles estão presos ao nome que foi dado ao personagem. Isso torna o trabalho deles menos valioso? Eu acho que não.

Mas por que eu disse isso? Eu sou contra jogadores escolherem o nome dos seus personagens? Bem, sim e não. Deixa eu explicar melhor.

Geralmente, eu não tenho nenhuma objeção a que as pessoas escolham o nome dos seus personagens. A maioria delas pensa um pouco antes de escolher, considerando a personalidade, o passado, a origem, a época e a ambientação do alter ego que estão criando. Elas dão nomes interessantes, com um embasamento no mundo do jogo e algumas até criam NPCs com nomes interessantes que fizeram parte do passado do herói que criaram. No entanto, algumas pessoas não se dão o trabalho de pensar por dois minutos. Elas apenas pegam a ficha e escrevem qualquer nome que lhes venha a cabeça como "Bob", "John", "Robin Hood", ou outra porcaria nesse nível. Isso quando elas não perdem tempo para pensar em um nome totalmente escroto como "Saddan Hussein", por exemplo. E ainda tem aqueles que dão nomes de personagens de Animê para todo e qualquer personagem que criam, seja em Dungeons & Dragons, Vampiro: A Máscara, Shadowrun, Fiasco ou qualquer jogo imaginável, ficando totalmente destoante do cenário do jogo. Se estivéssemos jogando Legend of the Five Rings, tudo bem, mas não.


Outro dia eu foi em um encontro de RPG (desses que rolam aqui pelo Rio de Janeiro), e um dos jogadores decidiu que o nome do seu Elfo Patrulheiro (era um cenário de fantasia medieval clássica) seria "Kakashi". Sério? Kakashi? E qual o problema disso? Primeiramente, esse nome não se encaixa no cânone do cenário de forma alguma, e olha que o mestre da mesa, que era um dos criadores do RPG pediu, especificamente, umas três vezes para darmos nomes aos personagens com letras comuns no nosso idioma (ou seja, só se fosse Cacachi). Segundo, que eu acho que o nome não se encaixaria em qualquer cenário típico de fantasia medieval que não tivesse um reino oriental com monges, samurais e ninjas. Além disso, esse nome faz o narrador e os outros jogadores questionarem o "realismo" do personagem, interferindo no nível de imersão de todos na mesa e, consequentemente, atrapalhando a diversão da maioria. Por fim, eu não gosto de desenhos japoneses e não quero ver eles colocando seus dedos sujos no meu hobby favorito (mas isso é um motivo muito pessoal, talvez, para vocês, os três primeiros sejam suficientes).

Então o que fazer? Tenho algumas opções. Se você for narrar uma aventura One-Shot ou em encontros, leve personagens prontos, já com nomes que condizem com seu mundo. Só deixe o jogador alterá-lo se ele tiver ótimas razões para isso e tiver um substituto à altura. Já, se você for mestrar uma mesa com amigos, que provavelmente se prolongará por mais de duas sessões, dê um voto de confiança a eles, mas apresente alguns nomes para que eles se inspirem. A maioria dos cenários dá algumas dicas e há vários sites na internet com lista e geradores de nomes que funcionam muito bem. As vezes, algumas culturas desses mundos fantásticos foram baseadas em alguma cultura real, que existe ou existiu no nosso mundo. Tente descobrir qual é essa cultura e peça para seus jogadores escolher um nome que se assemelhe aos utilizados nela.

Eu confesso que, as vezes, eu levo algumas coisas nesse jogo um tanto a sério, e, talvez, nomes de personagens seja uma dessas coisas. Se for uma mesa de alguma jogo de comédia "non-sense" tipo Munchkin ou algo parecido, não vejo problema. Mas quando se está tentando jogar um RPG e criar histórias que você gostaria de se lembrar depois, fica um pouco difícil ter boas lembranças da grande vitória dos heróis sobre o terrível feiticeiro negro da floresta se o grupo era composto por Bradis, o anão, Guido, o hobbit, Aranir, o mago e Yokonashi, o elfo patrulheiro. Um dos nomes definitivamente quebra a dinâmica e parece estranho e irreal. Ou talvez seja só eu, o que vocês acham?

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8 comentários:

  1. Quando comecei a jogar RPG nos primórdios, sempre tinha um Conan ou um Groo e até um Logan na mesa (ou os três). Era uma época mais simples, aonde permitia essa liberdade. Hoje sou mais restrito e nunca permitiria nomes e classes fora do tema central do cenário.

    Eu costumo utilizar de aliteração ao nomear meus PCs e NPCs quando quero que sejam marcantes e fáceis de serem lembrados (como Ramona Reed ou Bartatua Borea, e até o lobisomem Lua Legal (aliteração tripla!!!)).

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    1. Sem dúvida. Se for uma mesa totalmente descompromissada com história e mais de zuação, esses nomes até ficam engraçados (forçando um pouco a barra).

      Sobre as alterações, eu uso bastante esse recurso também. E até Tolkien usava. Thorin, filho de Thror, filho de Thrain. Hehehe, mas lobisomem Lua Legal fica muito feliz, não é não? eheheheheeh World of Darkness for Kids!

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    2. Na verdade o coitado levou tanta pancada na cabeça que só sabia dizer legal e ficar olhando pra lua.

      O comentário do Marcos me lembrou dos vários personagens de conotação dupla que presenciei. Molecada criativa.

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  2. Um dos maiores poderes do mestre é dizer não. Se ele virar e dizer que Cacachi não poderia ser o nome do elfo. Se o jogador disser que é por que ele foi treinado pro monges o mestre ainda pode dizer não. Se o jogador chorar, espernear, reclamar e fazer birra o mestre ainda pode dizer não.

    Se ele resolver não jogar por conta disso agradeça, o mestre se livrou de um jogador-problema bem antes do jogo começar. O mestre deve saber a hora de dizer sim e de dizer não em prol da trama.

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    1. É por aí mesmo. Embora eu adore poder dizer sim para idéias legais dos jogadores, algo que é bastante enfatizado no D&D 4e (e eu vou falar um pouco disso nesse blog), as vezes temos que dizer não, se não as coisas fogem do controle a a diversão é estragada para todos apenas pelos desejos de um jogador.

      Diga sim sempre que puder. Mas se o jogador estiver abusando, não tenha medo de negar.

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  3. hehehe Fala a verdade, vc se inspirou nos jogadores desta geração que roubam nomes de outros personagens famosos (na sua grande maioria de animes), incluem palavrões, onomatopeias, adjetivos enaltecedores ou simplesmente com o objetivo de irritar o mestre e fazer os outros rirem.

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    1. Hehehehe, para falar a verdade eu me inspirei em uma pessoas específica até. Mas já tive caso de um amigo meu querer fazer um Ranger chamado Yasser Arafat... Fala sério...

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  4. Olá Diogo!
    Post bastante interessante, acho que no final das contas o que todos nós procuramos é a coerência, pois um nome tem que passar uma certa atmosfera,tem que fazer sentido para o cenário

    ps: me passa um e-mail com teu banner para este endereço alvaro.botelho00@gmail.com

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