sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Zines: Jogando suas Idéias pra Galera

O que é um Zine? 

A primeira vez que vi um zine foi da mão de um amigo da galera do skate no início dos anos 90. Era um formato A5, grampeado uma vez no meio, impresso por xerox e cheio de colagens toscas, desenhos bem podres, umas letras ruins de funk tipo Melô da Mulé Feia e de uns hardcore gringos, além de muita coisa de skate, sempre num tom muito irreverente e pessoal, do tipo que não tinha nas revistas de maior tiragem. Era da galera do skate, pra galera do skate. Mais tarde entrei em contato com muitos outros tipos de zine, principalmente com HQs independentes e de artes, tipo música e poesia, ou política, a maioria anarquista e punk. Natural, porque esse tipo de publicação ganhou muita força com o movimento punk nos anos 70 e 80, com toda essa onda do Do it Yourself.

Zine é exatamente isso: uma publicação barata de fazer, barata de distribuir e sem compromisso no conteúdo, afinal não há patrocinadores nem um grande público para agradar, o que é muito legal para quem produz coisas diferentes. É o jeito mais automático e comunitário de distribuir sua idéia de forma física, impressa, tátil, permitindo aos autores criar experiências de leitura diferentes dos compartilhamentos via internet.

Tudo bem, mas o que isso tem a ver com RPG? 


Antes mesmo dos punks, porém, alguns clubes de jogos de estratégia no final dos anos 60 e início dos anos 70 já lançavam suas publicações de baixo custo para a comunidade. A revista Dragon, hoje famosa, veio de um boletim de jogos de estratégia chamado Strategic View e as primeiras edições da revista White Dwarf eram bem no espírito Do it Yourself, já nos anos 70. Foi nesse contexto que o RPG surgiu e sua comunidade se desenvolveu, com muita participação e criação conjunta.



Com o tempo, o RPG passou a ser cada vez mais um produto editorial e o aspecto comercial foi ocupando o espaço que antes era preenchido pelo conteúdo das comunidades. Não só grandes cenários de jogo passaram a tomar conta, como Forgotten Realms por exemplo, mas os próprios sistemas foram se tornando engrenagens mais fechadas, tornando mais complicado mexer de forma independente algum aspecto sem afetar os demais. A 4a edição do D&D é um bom símbolo disto.

Com os grupos de RPG se organizando via internet e com o surgimento das plataformas de financiamento coletivo, porém, este panorama mudou. Muitos autores viram a oportunidade de publicar seu material sem ter de agradar um grande público ou linhas editoriais estritas para viabilizar seu projeto. Isso fez vir à tona duas novas tendências no RPG: o RPG indie, com fortes veias narrativistas e ênfase em game design, e a OSR – Old School Revival - que trouxe de volta sistemas fáceis de se mexer com ênfase nas aventuras e não em cenários, como antigamente.

Não à toa, nestes dois nichos voltaram a aparecer zines, veiculando conteúdo criado pelas comunidades dos jogos bem no espírito Do it Yourself. Muitos vêm em formato digital, outros em formato impresso ou ambos, sempre distribuídos de forma grátis ou a baixo custo, enviados pelo correio mesmo.

O Dungeon Crawl Classics, por exemplo, é campeão nesse quesito. Sua comunidade no G+ é incrivelmente ativa e conta com muitos membros produzindo materiais muito loucos, que já foram indicados aqui no blog e merecem ser lidos. Outros RPGs que também tem muitos zines são o Lamentations of the Flame Princess, também old school, e o Dungeon World e correlatos. Aqui há uma lista bem grande de zines dos mais diferentes tipos.

Zines no Brasil 

Em paralelo a isso, houve no Brasil um ressurgimento das publicações independentes em formato simples e barato, coisa que também vem acontecendo lá fora. É cada vez mais comum ver feirinhas de zines de vários tipos e é legal ver o pessoal pirando não só no conteúdo mas também na forma de produzir o material de baixo custo, explorando diferentes técnicas de impressão, materiais e meios, criando experiências diversificadas de leitura e uso do material. Temos a NYABF (New York Art Book Fair) e a LABF (The London Art Book Fair), gringas bem famosas, e feiras brasileiras Plana e Tijuana (SP), a PÃODEFORMA (RJ) e a Parada Gráfica (RS). Vale a pena conferir a galera envolvida e suas criações, bastante inspiradoras.

Caveira Velha

Aproveitando esse momento, nós aqui do Pontos de Experiência resolvemos lançar em 2016 um Zine  brasileiro de Dungeon Crawl Classics chamado Caveira Velha. Esperamos que com o lançamento do DCC por aqui, essa tendência marcante da OSR pegue por aqui também. Sabe aquele material que você cria para sua mesa que todo mundo curtiu? A regra caseira que tornou o jogo mais emocionante, o monstro exclusivo que botou terror no grupo, aquela classe que você adaptou pro seu jogador ou a tabela doida que já rendeu tantas aventuras? Então, que tal publicar e dividir com a comunidade? Mãos à obra e produza seu zine!

E para dar uma palhinha, aqui vai uma Tabela de Caveiras para você usar na sua aventura entrar no clima do Caveira Velha e do que vem por aí.

Tabela de Caveiras #0
role um d24

01. Uma enorme ossada de anões onde apenas um esqueleto inteiro pode ser montado; uma placa anuncia “quem montar minha ossada poderá me fazer três perguntas”

02. Crânio de ciclope humanoide; através da órbita ocular consegue-se ver outra dimensão

03. Caveira anatomicamente perfeita de aço de altíssima qualidade; fala telepaticamente e conta que outrora foi uma espada mágica de um general muito perigoso

04. Jazigo de 30 caveiras encrustadas com pequenos circuitos de metal pelos ossos

05. Harpa feita com crânio de uma criatura humanoide com dois chifres acentuados; sua música é assustadora e triste

06. Caveira enfeitada com muitas flores e pinturas alegres em um altar cheio de pozinhos coloridos e raspas brilhantes; se pintar e perfumar com estes materiais confere sorte

07. Crânio com todos os dentes de ouro e rubis de sangue alocados nas órbitas; este magnífico tesouro dá azar, muito azar para quem rouba. A maldição só é anulada por um comportamento humilde e desapegado

08. Crânio de cujas órbitas oculares saem fortes feixes de luz incessantes

09. Caveira com chamas vermelhas nas órbitas oculares que realiza 1 desejo de natureza vil e que voltará 3x pior no futuro ao seu autor

10. Caveira de gnomo que se interpelada pode começar uma conversa, levantar e seguir e ajudar o grupo por puro tédio

11. Crânio repousado sobre um tomo mágico; quando o tomo for tocado, o crânio levitará pela sala disparando raios da morte 

12. Caveira usando coroa e medalhão que dão poderes sobre uma horda de mortos-vivos, com o custo da energia vital do novo rei

13. Tumba lacrada com um crânio de grande porte e três metros de altura com uma coroa de espinhos viva que tenta parasitar quem se aproxima

14. Caveira de proporções deformadas por torturas ao longo da vida com a inscrição “experimento 6” marcado em sua testa

15. Caveira com um elmo mágico enferrujado aparafusado em si pelas têmporas

16. Caveira de pombo com uma pulseirinha no tornozelo. A seu lado, tinta, pergaminho e pena com instruções para que se coloque na pulseirinha o nome de alguém a ser visitado pelo pombo da morte 

17. Caveira com escritos arcanos em todo seu crânio, que trazem de volta à vida seu antigo dono no corpo de quem os ler, disputando o controle de suas funções motoras esporadicamente;

18. Caveira de um bardo que toca um tambor feito de pele humana, sentado sobre um baú abarrotado de tesouros, cercado por 50 esqueletos dançando de forma enérgica

19. Crânio que fala e que sabe como será a morte de quem se aproxima

20. Caveira de boi que serve de máscara e permite enxergar espíritos

21. Caveira de um grande dinossauro com arreio e cabresto que, se desenterrado, pode ser usado de montaria para até oito pessoas durante uma semana, até virar pó

22. Crânio que tem em si pintado um mapa que indica o destino do resto de sua ossada

23. Crânio com seis metros de altura enterrado no solo. Desenterrá-lo e dormir dentro dele confere uma força aumentada durante o dia.

24. Caveira de um dos personagens com uma plaquinha com seu nome escrito pendurada no pescoço; caso leia, pode sofrer um ataque cardíaco e morrer ali mesmo
...

Pronto! Agora é sortear e colocar uma caveira velha na sua aventura.

Se você gostou da postagem, visite a página do Pontos de Experiência no Facebook e clique em curtir. Você pode seguir o blog no Twitter também no @diogoxp.

Nenhum comentário:

Postar um comentário