quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Habilidades de Ladrão e Testes de Atributo

O papel do Ladrão no D&D, e suas habilidades é algo que gera alguns bons debates e ideias no cenário RPGístico (ou D&Dística). Ele sem dúvida é uma das classes mais icônicas desse jogo, mas poucos (pelo menos por aqui) sabem que ele não existia na primeira versão do jogo, aquela que veio na Caixa de Madeira ou Caixa Branca do Original D&D de 1974. Sua primeira aparição só foi ocorrer no Supplement I - Greyhawk em 1975.

Mas o que isso implicava nos primeiros anos do jogo (e nos anos subsequentes, já que muita pessoas não jogaram com esse suplemento, e jogam até hoje sem ele)? Ou mesmo nas edições posteriores? Bem, ao meu ver, isso traz algumas consequências bem interessantes em relação a maneira como são julgadas as ações de personagens não pertencentes a essa classe, e a maneira como são vistos os famosos Talentos Ladinos.

Na edição original, basicamente, todos eram, até certo ponto, Ladrões. Não é porque um personagem não tinha o Talento "Mover-se em Silêncio" que ele não poderia tentar se esgueirar por trás de um guarda para entrar na Torre do Mago que ele quer assaltar. Não faria sentido os personagens não terem como procurar por armadilhas em uma masmorra só porque eles não tinham "Achar Armadilhas" em suas fichas. O que valia mais era a descrição da ações dos jogadores e o julgamento do Mestre com base nos atributos dos personagens.

Mas daí veio o Supplement I, e depois, todas as subsequentes versões do jogo que incluíram o Ladrão como uma classe do jogo. Agora existe um personagem com habilidades e regras claras para saber se ele se moveu em silêncio, se achou ou desarmou armadilhas (detalhe interessantíssimo: no D&D B/X só tinha Disarm Traps, ou seja, achar ainda era na descrição da ação), se conseguiu se esconder, e coisas do tipo. Imediatamente todos os outros personagens que conseguiam fazer isso simplesmente perderam essa capacidade então? Claro que não (pelo menos essa é a minha visão)!

Eu ainda acho que todo e qualquer personagem tem chance de tentar qualquer ação razoavelmente possível no mundo de jogo. Se for possível uma pessoa razoavelmente competente (aventureiros são pelo menos um pouquinho mais preparadas que pessoas normais) conseguir fazer aquilo, com uma boa descrição e uma avaliação da situação levando em conta os atributos do personagem, eu acho que o Mestre deve sim deixar a ação ser realizada. No caso de um guerreiro tentando se esgueirar por trás de um guarda, se ele tomar o cuidado de tirar as duras botas, se afastar, e usar um equipamento que não faça muito barulho tintilante, o mestre pode permitir que ele passe despercebido se sua Destreza for alta, ou pedir um teste de atributo, ou mesmo fazer um Teste Resistido de Destreza do Guerreiro contra a Sabedoria do guarda, já que o guarda talvez o ouvisse naquele momento, estivesse atento, sei lá.

Mas então para que serve os Talentos Ladinos? Ora pois, eles são habilidades especiais dos Ladrões que superam as meras tentativas casuais das outras classes. Um guerreiro pode tentar andar sem fazer muito barulho para se esgueirar pro trás de um guarda (que pode até ouvi-lo), já um ladrão pode "Mover-se em Silêncio". A habilidade permite que ele se mova sem fazer um ruído sequer, tornando impossível que um guarda lhe escute.

Da mesma forma, qualquer um pode entrar dentro de um armário e se esconder, ou ficar atrás de uma pilastra para não ser visto pela patrulha que adentra o templo, mas só um ladrão é capaz de se esconder em simples sombras, ou em lugares onde estariam parcialmente visíveis. Talvez seja algum tipo de poder mágico, ou pura e alta sorte (algo que os ladrões da literatura que inspiraram o jogo tinham de sobra), mas os Ladrões são capazes de fazer coisas fantásticas com seus talentos, além dos limites normais dos seres humanos.

Essa, pra mim, é a visão mais de acordo com a origem e a essência do jogo. Um jogo Old School não deve se limitar às regras em sua literalidades, mas procurar em suas lacunas e no contexto do jogo o real significado delas. E vocês? Como encaram essa questão na mesa de vocês?

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