sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Porque eu não gosto de Miniaturas no meu RPG

E mais um bate-papo no Facebook me rendeu uma postagem no blog. Outro dia falávamos sobre o uso de miniaturas nos nossos jogos, e não é mistério para ninguém que o Dungeons & Dragons se originou do Chainmail, um wargame que utilizava miniaturas em batalhas de exércitos. Isso, no entanto, não torna o D&D um jogo de miniaturas (mesmo estando escrito na capa da versão original que aquele é um jogo para campanhas de fantasia para miniaturas), como qualquer um pode perceber ao fazer uma leitura do mesmo.

De forma geral, utilizando as regras e os livros básicos das edições, nenhuma versão publicada pela TSR do jogo jamais precisou de miniaturas para ser jogada. O uso delas era citado rapidamente em alguns livros, e havia um certo incentivo a você comprar as "miniaturas autorizadas" (afinal, eles queriam ganhar uma graninha), mas de forma alguma o sistema era dependente do seu uso. Inclusive, o próprio Gary Gygax raramente as utilizava, e quando isso ocorria, era apenas para representar posicionamento e ordem de marcha do grupo.

É muito comum as pessoas assumirem que como o D&D Original utilizava sistemas de combate de um Wargame, que ele seria bem tático, utilizasse bastante miniaturas, e tivesse aqueles combates demorados que um jogo desse tipo geralmente tem. Mas isso não é verdade. O Chainmail na verdade possui 3 sistemas de combates próprios, e todos bastante abstratos. O utilizado mais comumente com o D&D era aquele que colocava indivíduo contra indivíduo, e não tinha um aspecto tático forte, tornando o uso de miniaturas desnecessário, já que cada rodada representava 1 minuto de ação (você não ficava representando cada passo e espadada do seu personagem). O que importava mais era o nível de treinamento do combatente, sua arma, sua armadura, e as mesmas características do oponente, algo bem parecido com o sistema de combate padrão do D&D clássico, um pouco mais simples.

Mas chega de lições de história. Isso aqui é uma postagem pessoal antes de mais nada. Eu quis falar um pouco do uso da miniatura na origem do jogo só para contextualizar. Mas a questão é, eu não curto usar miniaturas em jogo, principalmente durante combates e cenas de exploração. E sim, eu já usei miniaturas por várias vezes anteriormente, principalmente quando jogava D&D 3.X e 4e (sim eu jogava essas edições). Mas depois que voltei a jogar jogos sem miniaturas, e D&D antigo, vi o quanto elas prejudicavam o meu jogo, o meu estilo de jogar, e como eu preferia continuar sem elas daqui pra frente.

O uso das miniaturas para ordem de marcha eu até usaria normalmente e pediria para sempre que quiserem, os jogadores pudessem atualizar a ordem de movimentação deles. Isso seria só uma referência e auxílio ao mestre e aos jogadores para quando as ações começassem. A partir daí, as miniaturas seriam esquecidas e seguiríamos no jogo no chamado "mind's eye", imaginando e narrando as ações e cenas. Mesmo assim eu acabo não usando miniaturas nem para isso. As poucas que ainda tenho uso apenas como decoração mesmo.

Isso porque, em minha experiência, o uso de miniaturas deixa o jogo mais travado em diversos aspectos. Primeiramente, no aspecto financeiro, miniaturas são caras, difíceis de encontrar e um saco para transportar. Ou seja, eu (que curto comprar e jogar vários RPGs e não me dedicar feito um louco em um só) teria que gastar uma grana para comprar várias miniaturas para um RPG, ficar feito um louco procurando aquela que eu preciso mas que não acho em lugar algum, e basicamente só poderia jogar aqui em casa, porque ficar carregando um armário de bonequinhos por aí não rola.

Mas isso não é nem de longe o principal motivo para eu não gostar de jogar com miniaturas. O aspecto tático do jogo também não me atrai mais. Eu não tenho mais paciência para ficar horas fazendo uma ficha e pensando em todas as possibilidades de "feats", "skills", e outras cosias que eu posso pegar para fazer X, Y, ou Z, ou para me tornar isso ou aquilo daqui a tanto níveis ou pontos de experiência. Não quero passar 10 minutos por rodada calculando e examinando um tabuleiro para saber o melhor caminho tático que fará meu personagem ser mais efetivo, causar mais dano, ou sofrer menos consequências. Aliás, eu nem acho isso natural, no meio de um combate, com adrenalina correndo nos eu corpo, um aventureiro não vai ficar pensando 15 minutos antes de agir, ele vai fazer o que tem que fazer e pronto.

Alguém pode argumentar que um guerreiro dentro do jogo teria uma visão tática do combate, e tal. Mas quem garante que isso é real. Eu já vi depoimentos de soldados que tiveram treinamento militar que dizem que na hora que o sangue ferve, que seu amigo está morrendo do teu lado, isso não vale muita coisa, e você age com o seu instinto mesmo. Só isso já me faz não querer lidar com um "battlegrid" e combate tático dentro do RPG que eu jogo. Sem contar que eu espero muito mais de uma sessão de jogo do que horas e horas movendo peças em um tabuleiro. Combates dessa forma demoram muito, mas muito mais mesmo que combates feitos com sistemas mais leves e sem miniaturas. Todo o pensamento tático de quais quadradrinhos andar, quais habilidades, feats, skills e poderes combinar para fazer o combo melhor, e qual inimigo parece ser o mais fácil de acertar devido a essa visão tática do jogo faz cada combate demorar horas e horas, e esse é um tempo que eu preferia estar investindo em diversos outros aspectos do RPG além do combate (que aliás também é importante, só não é o mais importante). Eu passei anos e anos jogando as edições mais recentes de D&D e achava tudo isso normal, até que joguei novamente uma sessão de uma edição clássica do jogo e fiquei espantando com a velocidade do jogo e de quanta coisa a gente conseguiu fazer em uma sessão de jogo comparado com o que estávamos acostumados.

Enquanto em uma sessão de 3 ou 4 horas eu costumava ter apenas uma ou duas cenas e um combate ou dois no máximo, eu consegui novamente mestrar uma aventura inteira nesse período, com mais de 4 combates, cenas de exploração, "roleplay", puzzles. Foi quase como se descobrisse um novo e fantástico jogo novamente.

E outra coisa passou a acontecer novamente na minha mesa. As pessoas passaram a tentar fazer coisas fora do comum e inesperadas novamente. Pode ser que isso tenha acontecido só comigo (mas creio que não, como já vi depoimentos no mesmo sentido de outras pessoas), mas as pessoas com quem joguei quando usávamos miniaturas e regras táticas ligadas a ela se prendiam muito nas regras do jogo. Elas contavam quadrados, pensavam nas ações mais taticamente vantajosas, e nas coisas que dessem mais dano que pudessem fazer e estava ali na frente delas, em suas fichas (feats, skills, poderes e tal). Era muito, mas muito raro, eu ver alguém tentar algo espontaneamente criativo, que estivesse listado como uma manobra no seu personagem. Ninguém se pendurava em candelabros, tentava fazer um "parkur" nas paredes, ou escorregar por debaixo das pernas do ogro para acertá-lo onde dói. Eu não sei se é porque isso não é fácil de reproduzir com as miniaturas, ou as regras desses jogos mais táticos deixam as coisas mais complicadas (ou faz parecer que só é vantajoso tentar algo se você tem aquela habilidade específica), mas essas coisas não aconteciam.

Por outro lado, em RPGs em que o combate é mais abstrato e narrativo, onde o aspecto tático é menos focado, essas coisas passaram a acontecer bem mais frequentemente. Não sei, talvez quando somos forçados a imaginar o combate acontecendo em nossas mentes, tendo que idealizar toda aquela ação e movimento, seja mais fácil visualizar os personagens fazendo as mais diversas coisas! As pessoas com quem eu joguei desde que parei de usar miniaturas já tentaram coisas que eu não via em uma mesa há anos. Pulam por cima de inimigos, tentar pegar isso ou aquilo deles no meio do combate, arremessam cadeiras, se penduram nas coisas para tomar impulso e atacar, enfim, parece realmente uma cena de ação de filmes e quadrinhos, com rapidez, fluidez, e é diversão. Não ficamos mais olhando um tabuleiro por 10 minutos toda hora quem alguém vai agir, ninguém pensa tão estrategicamente como um xadrez. No fundo, parece até mais real. E ainda sobre bastante tempo para o resto do jogo (que eu adoro, particularmente).

No final, eu não tenho nada contra miniaturas, e gosto delas como um elemento decorativo no meu jogo, mas só isso. Além disso, não quero de nenhuma forma fazer parecer que um jogo sem elas é melhor do um jogo com elas. Seu uso, simplesmente, só não faz meu estilo de jogo. Sou velho demais (com meus 29 anos) para elas. No entanto, tenho certeza que um estilo de jogo mais tático agrada outros jogadores. Mas se eu pudesse terminar esta postagem com um conselho, ele seria o de pedir para que vocês experimentem jogar um pouco sem elas, com um combate mais abstrato e narrativo para ver como se saem, ou mesmo alternar entre um estilo e outro. Mas e vocês? Gostam de usar miniaturas nos seus jogos?

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