quarta-feira, 27 de junho de 2012

RPG é um Jogo Sério para Você?

Esse não é um post de dicas, mas de reflexão, de discussão e bate-papo. RPG é um jogo cooperativo, onde o objetivo principal não é ganhar (no sentido normal da palavra, que denota um ganhador e um perdedor), mas sim se divertir com amigos, conhecidos ou até mesmo com estranhos que sentam a uma mesa conosco para rolar dados e participar de uma história em que todos participam de sua criação (em maior ou menor grau).

Acontece que essa diversão pode ser alcançada de maneiras diferentes, dependendo do gosto e da disposição de cada um dos participantes. Alguns jogadores não querem nada além de monstros para derrotar e tesouros para recuperar. Outros querem participar de uma construção coletiva de uma história onde cada um interprete fielmente seu personagem, quase como em um teatro. Já outros querem apenas se divertir, dar algumas risadas e jogar um jogo com seus amigos. Nenhuma das três formas, ou qualquer outra, está mais certa ou mais errado do que a outra, na minha opinião, mas acho que é importante que saibamos que pessoas diferentes esperam coisas diferentes de uma mesma mesa de jogo.


Eu já me decepcionei esperando dos jogadores de minha mesa uma seriedade e dedicação ao jogo que eu achava que eles deveriam ter (a mesma que eu geralmente tenho), mas percebi que isso era bastante prejudicial, tanto para mim quanto para eles, que acabavam se sentindo pressionados e iam se afastando do jogo (pelo menos é o que eu acho que aconteceu). RPG é antes de mais nada uma atividade lúdica, de diversão e, ao meu ver, é melhor ser mantida assim, e não ser transformado em uma espécie de segundo emprego. Por isso, eu passei a encarar as sessões de RPG como qualquer outro tipo de entretenimento, como uma ida ao cinema, uma cervejinha no bar e essas coisas.

Muitas vezes, quando nos reunimos para jogar é também uma das poucas vezes que vemos esses amigos em nossas atuais vidas corridas. Nada mais natural de rolarem alguns papos não relacionados ao jogo, piadas, comentários e fofocas. Geralmente tento reservar uns trinta a quarenta e cinco minutos de bate-papo antes de começarmos a jogar, isso é suficiente para nos iterarmos inicialmente, mas, fatalmente, durante a sessão, haverão momentos curtos de papo não relacionado ao jogo, principalmente se as sessões forem longas, com mais de duas ou três horas.

Mas sabe de uma coisa? Eu não me importo com isso. Sei de muitos mestres que detestam qualquer interrupção na sessão, que abominam jogadores que fazem alguma piada, seja relacionada a aventura ou não, mas eu não sou assim. Pode ser só uma questão de gosto mesmo, mas eu penso que se estou ali para me divertir com meus amigos e eles se divertem brincando, rindo, fazendo piadas de vez em quando, que mal há nisso. É claro que tudo em excesso é prejudicial, e se uma aventura de horror for repleta desses momentos, você tem todo o direito de pedir para o pessoal maneirar, ou, se perceber que eles estão a fim de algo mais descontraído, propor um jogo diferente.

É claro que você tem o direito de querer jogar um jogo mais sério, onde cada jogador deva permanecer interpretando seu personagem a todo momento, sem se desligar do jogo para comentar o jogo de futebol que passou na TV ontem. Mas se quiser isso, seja claro com seus jogadores. Quando estiver convidando-os para a mesa, já diga que é uma mesa mais séria, onde a interpretação e o roleplay vão ser mais pesados. Assim, todo mundo que for jogar já vai saber o que esperar, como deverão se portar, e saberão que as piadas deverão ser guardadas para mais tarde. Nesse tipo de mesa, acho importante a realização de alguns intervalos, talvez meia hora a cada duas horas de jogo, para o pessoal relaxar, said do personagem, beber uma água e, por que não, falar bobagem, afinal, trata-se de uma reunião de pessoas que geralmente são amigas e estão ali para dar umas risadas também. Assim, depois dessa pequena pausa, todo mundo vai estar pronto para mergulhar de cabeça, novamente, na aventura e se manter dentro dos personagens. Mas se alguma piada sair durante o jogo, sem estresse, as vezes é o meio pelo qual aquele personagem lida com o medo e tensão. As vezes, nós mesmos, para conseguirmos lidar com situações mais complicadas, apelamos para o sarcasmo e ironia, e isso pode acabar gerando uma gargalhada aqui e acolá. Relaxe e deixe rolar, só não deixar fugir do controle.

Lembro de uma mesa que joguei no encontro Saia da Masmorra em que a pessoa que estava narrando saiu muito irritada do encontro porque, segundo ela, eu e um amigo tínhamos estregado a mesa com as nossas brincadeiras. Eu, particularmente, me diverti bem na sessão, em um sistema que eu não gosto muito, e nem achei que tivesse brincado tanto. Minha personagem era um tanto rabugenta e eu xinguei alguns NPCs, entreguei um outro que nos traiu para um Banshee ao invés de ouvir o que ele tinha a dizer. No final, os jogadores se divertiram bastante, mas o narrador nem tanto. Mas em nenhum momento, até o final do jogo, ela disse que queria uma mesa mais séria, sem nenhuma piada (embora eu não tenha feito nenhuma propositalmente de sacanagem, apenas pensando em minha personagem tendo um humor mais negro).

Hoje, na maioria dos jogos que eu participo, sou mestre. Por isso vivencio muitas situações como estas, de jogadores fazendo piada em relação a algum nome de NPC da aventura, com alguma frase falada por mim ou por outro jogador, de um jogador chegando atrasado e comentando alguma assunto não relacionado à mesa. Antigamente, eu ficaria até irritado com essas coisas, mas acabei me acostumando e percebendo que algumas dessas interrupções são até necessárias para dar um descanso para as pessoas. As vezes, ainda reajo a algumas gozações sem sair do papel de narrador ou NPC, e respondo a piada como se fosse o personagem com o qual os jogadores estão interagindo, mostrando para eles que aquela não é bem uma hora para brincadeiras. Mas depois, até alivio a barra e brinco de volta com eles. Eles se divertem e eu também. Não é meu estilo manter os jogadores em rédea curta. Se eles preferem ter a possibilidade de brincar de vez em quando, eu brinco com eles. Se preferirem um jogo mais sério, eu fico sério também (o que é mais raro). Em encontros nos quais costumo mestrar, eu nunca espero que um grupo de desconhecidos (ou conhecidos, muitas vezes), vai querer um jogo mais sério. É natural que aconteçam brincadeira, ainda mais em um jogo que não vai ter uma continuidade. Mas se quiser uma experiência mais centrada, séria e adulta, eu peço e aviso a todos que quiserem jogar a minha intenção e, a maioria das pessoas, entende bem isso e se porta como tal.

De uma maneira geral, eu prefiro jogos que possam ter esses momentos mais cômicos e descontraídos, é uma maneira de quebrar a tensão (que então volta a crescer) e me divertir com meus amigos. E você? Como prefere jogar? Prefere que todos na mesa se concentrem totalmente, sem fazer nenhuma piada ou comentário além do jogo? Ou acha que pode sim ter espaço para uma brincadeira ou outra?

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4 comentários:

  1. Acho que a maioria das frustrações que o mestre tem com jogadores muito piadistas ou então que as vezes não entendem a vontade de jogar mais sério do mestre vem do fato de que realmente o mestre leva mais a sério o jogo. Por mais que o mestre tenha o rpg em poucas partes de sua semana, ele provavelmente se aplica mais ao jogo do que todos os outros jogadores. Já imaginei que isso também poderia acontecer por as vezes o mestre se dedicar e criar uma coisa para então ver os jogadores zombarem dela, seja uma historia, personagem ou qualquer outra coisa. Uma carga emocional é colocada em tudo que criamos, seja em rpg ou em outra coisa, esse tipo de indignação é muito parecida como quando um personagem antigo morre de forma besta e o jogador se revolta.
    O rpg é uma atividade que geralmente melhora a gente pelo grau de dedicação que exige, passamos a ler mais e todo aquele bla bla bla que todo mundo que joga a algum tempo percebe com o passar dos anos em contato com um hobby que necessite de dedicação. Acho que entender essa coisa de "rpg é diversão" é uma das coisas que com o tempo acaba passando para outras areas das nossas vida e se aplicadas corretamente nos faz crescer e parar de militar por bobagens huaheuaaheuaheae.
    Particularmente, prefeiro jogos com mais seriedade, mas as piadas sempre são bem vindas, quem não gosta de dar umas risadas?

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  2. Há jogos e jogos de RPG. E há jogadores e jogadores de RPG.

    Certos gêneros ficam ótimos com piadas, outros se descaracterizam. Isso varia também do gosto pessoal e intimidade entre o mestre e jogadores. Uma piada eventual pode acontecer até num jogo de horror, mas se elas virarem uma constante, o jogo está descaracterizado. Incluo neste pacote também gírias temporais como "partiu" e "já é" em pleno medieval.

    O que o Alexandre falou é certo: o mestre tende a levar o jogo mais a sério e passa às vezes horas a fio criando uma aventura / personagem / cenário e tem uma expectativa pessoal naquilo.

    Certa vez meu atual mestre tinha criado uma raça diferente e misteriosa. Quando finalmente descobrimos como eles eram, ele descreveu falando uma coisa meio depreciativa e todos os jogadores não conseguiram parar de rir, eu inclusive. Perdemos XP neste dia, e depois ele ficou tão abalado com isso que quase parou de mestrar. Tivemos que fazer um acordo que não faríamos mais aquela brincadeira e o jogo seguiu depois normalmente.

    Essa história ilustra o quanto os jogadores podem frustrar um mestre. A nossa mesa tem brincadeiras eventuais, mas geralmente ela flui sem muitas interrupções. Esta foi a única vez que realmente deu problema.

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    1. É um ponto realmente importante, rpg é jogado por pessoas e pessoas podem ficar realmente tristes por coisas que nem imaginamos. O duro é que essa parte depende do bom senso de todo mundo, e as vezes o nosso anda em baixa e cometemos um deslize que coloca tudo a perder aehuaheuaheae.
      Gíria dentro do medieval é uma coisa que não me desce também quando fica frequente. É legal quando rola aquela imersão no personagem e o uso de gírias torna realmente dificil isso.

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