sexta-feira, 27 de abril de 2012

Monte Cook, D&D, Hasbro... e Reflexões Pessoais

Há poucos dias um notícia deixou muita gente em polvoroza. Monte Cook estava saindo da Wizard of the Coast novamente e não mais faria parte do time de designers da próxima edição de D&D. Algumas pessoas receberam essa notícia como as trompetas do apocalipse, como se agora tudo estaria perdido e outras como o sinal de que, finalmente, a nova edição podia seguir seu caminho certo sem ser importunada por retrógrados e fanáticos. Parando para pensar sobre isso, eu tive algumas reflexões pessoais sobre o assunto e resolvi compartilhá-las aqui.

Primeiramente, acho que a saída do Cook é sim prejudicial ao D&D Next, independente de qual edição você gostar ou se acha que as ideias dele deviam ser incorporadas ao jogo ou não. O grande e nobre ideal do D&D Next era, ou é, reunir todos os jogadores de D&D novamente sobre uma edição única, capaz de agradar a todos, que concentrasse os elementos que fazem e fizeram de D&D o que ele é. Com a saída de Cook do time, a representação de vários segmentos de jogadores e ideais do que o D&D representam saem da equação e a chance desse ideal não ser alcançado só aumenta. As pessoas que estão satisfeitas de saber que as ideias e os elementos das edições passadas que o Cook queria que voltasse a fazer parte do jogo, possivelmente, não mais estarão lá, estão esquecendo que, com isso, apenas elas serão agradadas e o objetivo da nova edição vai por água abaixo. É claro que nenhum dos públicos ficará cem por cento satisfeito ou terá  todas as ideias acatadas, mas a saída de Monte representa uma perda de espaço e público que poderia voltar a jogar D&D com o nome de D&D (porque continuam jogando D&D, seja ele com nome de Labyrinth Lord, Pathfinder ou Old Dragon, por exemplo).

Mas isso não quer dizer que a próxima edição será um fracasso. Ela, com certeza, vai agradar muitas pessoas, como qualquer edição agradou, vai vender muitas cópias, mas dificilmente vai conseguir atingir seu ideal. Até porque, não é com isso que a Hasbro está preocupada. Ela quer agradar o público que ela tem hoje e, se der, conseguir angariar algumas pessoas a mais para vender novos livros, já que a fonte de peças de ouro da quarta edição não está matando a sede dos executivos. Para que se arriscar em agradar um monte de jogadores que não consumem mais os produtos deles, correndo o risco de não agradar o atual público, se pode acontecer deles continuarem jogando suas edições antigas e reto-clones. Não posso culpá-los desse pensamento, eles estão pensando no negócio deles.

Mas, então, o que muda para aqueles que esperavam um retorno às origens do jogo? Sinceramente, na minha falível opinião, nada. Vamos continuar sem suporte "oficial" para nosso jogos, mas muitas editoras e estão criando e já criaram suplementos, aventuras e jogos que são compatíveis com as edições favoritas de cada um. Se eu quiser um jogo como o D&D de antes era, é fácil achar um, ou mais de um por aí e posso produzir suplementos para ele se quiser, como muitas pessoas fazem. A utopia do D&D Next de juntar todos em um único jogo é linda, mas dificilmente passará de um ideal, a realidade é bem diferente.

Mas sabe qual é o meu maior desejo para o Dungeons & Dragons? Que não houvessem mais edições de D&D e que todas as edições até então publicadas voltassem a ver a luz do dia com PDFs com marca d'água (como a paizo faz com pathfinder) e em sistemas de print-on-demand com os módulos básicos impressos normalmente. Todos ficariam satisfeitos em poder ter acesso a sua edição favorita, o suporte a cada uma das edições poderia ser feito por meio de outras editoras por meio de OGL, ou outra licença similar que garantisse algum percentual para a Hasbro e a empresa poderia focar seus recursos para produzir outras coisas mais lucrativas com a marca D&D, como video-games, board games, card games e sei lá mais o quê. A primeira edição de AD&D está sendo re-impressa e, ao que parece, os livros básicos da 3.5 também, quem sabe, no futuro, não veremos um Rules Cyclopedia por aí, eu estou cruzando os dedos para que sim.

Por fim, fico com um comentário sobre tudo isso que eu escrevi. Isso aqui é um blog pessoal, com opiniões pessoais, influenciadas pelos meus gostos e preferencias. Não sou dono da verdade, como ninguém é, em termos de diversão. A minha, a sua ou a maneira de qualquer um se divertir não é mais certa ou errado do que a de ninguém, não deixe ninguém tentar lhe convencer do contrário.

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4 comentários:

  1. Diogo, acho que é por aí.
    Não é o fim do mundo, mas decepciona a hasbro aparentemente ter preocupação excessiva com lucros e de menos com a tradição do jogo.

    Acho a bandeira do "um DeD para todos dominar" utópica. Não iria rolar nem mesmo com Monte Cook no comando. O público se diversificou demais, e há "sub-grupos" demais para conseguir agradar a todos.

    Mas, diferentemente de você, não sei se o próximo DeD vai vender bem. Eles vão vender bem para quem? Novos jogadores tem uma penca de opções, mais baratas, do mesmo DeD, de qualidade similar ou superior (dependendo da opinião de cada jogador).

    O número de coisas baixáveis (não estou defendendo a pirataria, estou apenas constatando um fato), mesmo com o final de uma megaupload, e a rapidez com que ficam disponíveis, é uma dura realidade para as editoras, pelo bem e pelo mal.

    Os novos jogadores gostam muito de MMO, e é preciso ou aderir a esta tendencia (como eles fizeram e não deu certo em termos de mercado, com a 4th), ou resgatar origens de fato, fazer modificações que melhorem sistema e ambientação, tornar o RPG mais leve, como fazem os Indies e outras tantas possibilidades.

    Pessoalmente, neste ponto, acho que eles vão precisar gastar os tubos para tentar ter retorno, e correrm o sério risco de, simplesmente, afundarem a marca enquanto potencial de lucro renovável.

    Agora, concordo que as alternativas "deideísticas" devem se manter fortes.

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    1. Vender bem eu acho que vai, sim. Não o quanto a Hasbro considera que o D&D deva vender, mas vai vender. Só de ter o nome D&D já vende. As pessoas vão comprar no mínimo o básico para ver qual é a do jogo. Mesmo o 4E mudando tudo, que é basicamente o que o D&D Next vai fazer, vendeu bem (não, o Pathfinder não vende mais que o D&D 4E, os dados que divulgam o Pathfinder passou as vendas do D&D em uma cadeia de lojas físicas nos EUA, mas no mundo, o D&D vende mais).

      Mas é aquilo, para mim é só mais um jogo novo e diferente. D&D do jeito que eu gosto está em outros jogos. A WotC tem que acordar e voltar para o mercado digital e vender as edições antigas em PDF e em serviços Print on Demand, eles só tem a ganhar com isso.

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  2. Sim, mas não mais tão bem. O DeD se mantém por dois principais motivos: Tradição do nome e força financeira. A tradição, concordo, dá gás o suficiente para a franquia se manter por mais algumas decadas, no mínimo. Já o financeiro, vai realmente depender do quanto a Hasbro espera investir e projeções de retorno. Essas certamente precisarão ser diminuidas. O fato de "ainda" vender, é uma aposta arriscada porque a nova geração está mais ligada afetivamente aos MMOs do que DeD. E há o risco da tradição não bastar como seria desejável para as vendas. Vamos ver. Não ficaria surpreso se o DeD se manter de fato vendendo bem nos príoximos 10 anos, mas vou ficar surpreso se as vendas, após a renovação mais efetiva de geração de conmpradores, ainda tiver força, caso o DeD não consiga um produto que os jogadores se apaixonem.

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    1. Mas aí que está Brega, tem muita gente apaixonada pelas novas versões de D&D também. Eu, pessoalmente, prefiro as antigas, mais fieis à origem do jogo, mas isso sou eu. D&D, para o mundo que não joga, é sinônimo do RPG. Se ele está mal, o hobbie como um todo está mal também. Mas eu duvido que um dia ele fique fraco. Ele tem muitas versões, muitos retro-clones e os jogadores vão manter ele vivo sempre, até quando houver pessoas jogando RPG, irá haver pessoas jogando D&D, seja o nome que for na caixa.

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