terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sandbox!? Que troço é esse?

Quando as pessoas pensam em jogos Old School, a primeira coisa que veem à mente da maioria são aquelas gigantescas masmorras, com centenas de aposentos, corredores, passagens secretas e criaturas bizarras. Campanhas inteiras podiam acontecer em uma única "Mega-Dungeon". Mas esse não era o único tipo de campanha jogado. Outro estilo muito popular eram os jogos "Sandbox", onde a exploração era o foco e quem ditava o andamento da campanha eram os jogadores, seguindo seus próprios interesses. Não existia um Mega Plot, um super-vilão, um grande tema para as aventuras. Quem escolhia que masmorra adentrar, que injustiça corrigir, que tesouro procurar, eram os jogadores, e o mestre reagia e construía o mundo com base nisso.

Mas como funcionava esse tipo de campanha? Como o mestre conseguia prever cada movimento e plano dos jogadores? Todos jogavam o mesmo cenário de campanha publicado para poder saber exatamente o que tinha naquela montanha que os aventureiros estavam indo explorar? Bem, essas e outras questões eu vou tentar resolver citando algumas características e elementos desse tipo de jogo e o que é necessário para que ele dê certo em uma mesa.

Mapa com Regiões Variadas: Um bom jogo estilo Sandbox tem, para começar, um mapa de uma região que não precisa ser muito vasta, mas precisa ter uma boa variedade de locais, como cidades, vilas, montanhas, florestas, pântanos, rios, ruínas, e outras coisas. O que vai mover o jogo vai ser a vontade de explorar ambientes novos e diferentes dos jogadores. O segredo é criar lugares interessantes, mas você não precisa detalhar todo o local inicialmente, dê apenas um nome intrigante e alguns adjetivos para descrevê-lo. Isso é tudo que você vai precisar. O narrador só desenvolve mais profundamente o local quando sabe que irá utilizá-lo em uma sessão próxima (já que, ao final de cada jogo, ele geralmente pergunta quais serão os próximos passos dos personagens).

Personagens com Motivações: Para uma mesa de Sandbox funcionar de verdade, os personagens tem que ter motivações fortes que os mantenham sempre na busca, na exploração, em aventuras. Personagens que dependem de algo os atingindo para agir não são bons para esse tipo de campanha, eles devem ser aqueles que criam eventos e acontecimentos e não aqueles que somente reagem em resposta a eles. Tendo motivações bem definidas e fortes, eles terão sempre motivo para seguir em frente, em busca de novas aventuras, de mais tesouros, de mais glória, de manter sua honra.

Jogadores Proativos: Da mesma forma, os jogadores precisam ser proativos (eu sei que é chato esse termo, principalmente quando um anúncio de emprego fica pedindo isso). Mas é verdade, jogadores que tenham interesse, que consigam manter o jogo em um ritmo bom e animado são fundamentais. Jogadores capazes de, além de manterem seus personagens motivados, motivar os outros jogadores e conseguir criar material e ganchos que o mestre possa utilizar também ajudam muito.

Preparação: Uma mesa de Sandbox exige certo nível de preparação por parte do mestre. Ele deve estar pronto para reagir às ações dos jogadores e ter sempre um ás na manga para quando precisar. Isso não quer dizer que o narrador vá preparar e detalhar todas as localidades e encontros possíveis na região, isso seria loucura. Mas ele deve preparar, entre as sessões, encontros e locais próximos de onde os jogadores se encontram, e ter como reserva, uma ou duas localidades genéricas para colocar no caminho dos jogadores a fim de ganhar tempo, se necessário. O contrato social entre os participantes do jogo é ainda mais importante nesse tipo de campanha. É de bom grado, ao final de cada sessão, os jogadores informarem os planos deles ao mestre. Dessa forma ele já terá uma ideia do que terá que preparar para o próximo encontro.

Improviso: O mestre deve estar preparado para improvisar. Isso mesmo, improviso não precisa acontecer sem que você não tenha nada. Há maneiras de ter algumas cartas na manga e estar preparado para colocar coisas não planejadas na frente dos jogadores, como encontros com bandidos na estrada, uma ruínas antiga e misteriosa atrás da colina, a aparição de uma criatura mística entre as árvores, e outras coisas assim. Com o tempo, o narrador vai aprender a criar essas situações até sem muito preparo. Além disso, diversas aventuras e módulos prontos podem ser inseridos dessa forma, também.

Consequências: Um dos grandes atrativos desse tipo de jogo é ver as consequências das aventuras dos heróis ao longo do tempo. A vila que eles salvaram de um ataque de goblinóides pode ter se tornado mais forte e crescido para uma pequena cidade depois de um tempo. Já aquela que eles ignoraram o pedido de ajuda para explorar uma ruína próxima pode ter caído em ruínas. Mas nem tudo precisa depender da intervenção deles. Outros aventureiros podem ir deixando sua marca pelo cenário. Mudanças podem ir ocorrendo. O Rei benevolente pode morrer e em seu lugar, o filho mimado e cruel, passa a exigir impostos duros sobre o povo. Enfim, o mundo em constante mudança, dando uma ideia de cenário vivo e dinâmico é fundamental para jogos Sandbox.

NPCs: Ao longo do tempo, quando os personagens forem acumulando um número de aliados, inimigos, contatos e amigos, é bem legal fazer eles aparecerem repetidamente em diversos lugares. Talvez um aliado vá a procura deles em uma cidade distante, ou alguém pergunte sobre o paradeiro de uma pessoas que eles conheceram lá trás. Um inimigo que eles pensavam ter "eliminado" pode ter fugido e estar vivendo disfarçado em outro lugar. Mesmo sem ter um "plot" central de campanha, manter algumas coisas fixas e um "cast" de personagens que aparece continuamente é legal para dar uma segurança e senso de realidade para os jogadores.

Enfim, resumindo, uma campanha Sandbox é aquela em que os jogadores são livres para perseguir os objetivos e vontades de seus personagens, sem ficarem presos a uma história pré-definida pelo mestre, sem um super-vilão para derrotar ou um mega-plot para seguir. É um tipo de campanha que exige uma dedicação até um pouco maior do que outras, mas, por outro lado, recompensa aqueles que participam dela com um cenário vivo, livre, e com possibilidades infinitas. Eu estou louco para começar uma campanha assim. E vocês já tiveram experiência com esse tipo de jogo?

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7 comentários:

  1. Com certeza a recompensa é maior. Só de imaginar já me regozijo com as campanhas fodásticas que podem surgir daí.

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  2. Ah, quanta saudades de jogar RPG... Eu utilizo cenários prontos para jogar sandbox, funciona bem, afinal, basta dar uma lida nas cidades onde eles estarão indo e fazer tudo ficar em movimento.
    Acho que o principal ponto do sandbox é não forçar os jogadores a seguirem um caminho pré-definido, um roteiro de viagem. Mesmo quando for preciso ir a um lugar pré-determinado, quem escolhe o caminho são eles, os jogadores. Querem passar pela Floresta das Mil Almas? Ótimo. Querem cortar caminho pelo Pântano dos Trolls Gosmentos? Ok! Hhehehe!

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    1. É por aí mesmo Prof. Alessandro. Muitas mesas Sandbox utilizam muito material pronto e vão colocando essas coisas em lugares que acham apropriados. É claro que cenários prontos também funcionam bem nesse tipo de jogo que a característica principal é ser movido pelos jogadores. E, de qualquer forma, sempre há espaço para acrescentar coisas mesmo nos mundos mais detalhados.

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  3. Ótimo post Diogo! Minha campanha atual não é sandbox pura, mas apesar disso tem muitos elementos dela, principalmente o dinamismo.

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  4. Isso me faz lembrar de quando eu jogava AD&D, jogávamos na famigerada Karameikos... Jogávamos nos guiando pelo mapa do país... Cada um com seus objetivos próprios, mas acabávamos seguindo pelo mesmo caminho... E nos aventurando por tudo o mapa... Era SENSACIONAL! Uma pena que o grupo deu uma parada desde o ano passado...

    Aliás... Quem estiver precisando de um jogador old school (mas de cabeça aberta para quase qualquer sistemas rs) ESTOU AÍ!!! Sou do Rio de Janeiro!

    Email: dan.gaijin.dan@gmail.com

    Grande abraço a todos e parabéns pelo blog Diogo... Me identifico pacas cnn tudo que você escreve por aqui!

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  5. Nunca joguei usando esta técnica do Sandbox. O que já fiz quando comecei a jogar RPG foi mestrar aventuras de improviso, principalmente Tagmar e D&D primeira edição.

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  6. Demorou para eu ler esse post Diogo, mas vai me ajudar bastante com a criação do meu cenário.

    Ótimo post, como sempre...

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