quarta-feira, 18 de julho de 2012

Crime e Justiça em Mundos Medievais

Quando jogamos RPG, é inevitável que tragamos para nossos personagens nossas noções de bondade e maldade, o que é certo e o que é errado, o que é justo e o que é injusto. Não há nada de errado nisso. Mas muitas vezes nos esquecemos que a sociedade desses mundos, muito provavelmente, não compartilha desses pensamentos mais "modernos".

Muitas vezes, se formos nos basear na nossa época medieval, as leis eram feitas por quem detinha o poder, a terra, os títulos de nobreza. Dificilmente existia leis e códigos escritos, e o que era uma ofensa e sua pena podiam mudar da noite para o dia, ou dependendo do criminoso e ofendido. Assim, como os aventureiros são geralmente agentes da mudança, desafiam a ordem, exploram lugares proibidos, lutam contra injustiças (na visão deles), provavelmente vão se achar envolvidos em algumas enrascadas com os agentes da lei.

Por isso, se você quiser colocar um toque de realismo e criar algumas complicações diferentes para os personagens, introduza alguns problemas com a lei, autoridades e até mesmo com a população em geral. Primariamente, haveriam três coisas a se pensar: Autoridades; Crimes e Ofensas; Julgamentos; e Punições.

Autoridades: De maneira geral, em cenários mais antigos e medievais, a lei é a autoridade. Ela é quem dita o que pode e o que não pode ser feito, ou o que pode ser feito por quem. Essa autoridade pode vir de um título de nobreza, de uma linhagem, de uma hierarquia em uma organização (igreja), ou mesmo auto-imposta. Assim, essas pessoas tem o poder de ditar as regras para as outras (ou pelo menos, para a maioria delas) e quem as contraria, acabam do outro lado da lei. São bons personagens antagonistas ocasionais nas campanhas, ou mesmo de vilões centrais, no caso de um grande tirano de um reino. O poder, como já sabemos, corrompe. Então, muitas vezes, essas autoridades acabam usando-o para fins pessoais, para conseguir o que eles quiserem, ajudar aqueles que são seus aliados e prejudicar aqueles que o contrariam.

Crimes e Ofensas: Nem tudo o que consideramos crime hoje em dia era considerado crime antigamente. Coisas que achamos que são direitos de cada um, eram como crimes antigamente. Por exemplo, temos o direito de acreditar no que quisermos e não somos obrigados a nos curvar diante de um sacerdote ou nobre. Mas, geralmente, nesses mundo medievais isso seria uma ofensa grave, principalmente se você não tivesse alguma autoridade própria. Além disso, algumas coisas podem ser crimes e ofensas para umas pessoas e não para outras (como entrar em alguns lugares, ter mais de uma mulher, portar armas). Seja criativo e maquiavélico na hora de criar obstáculos para os personagens. Os aventureiros, com certeza, violaram vários tabus da sociedade, portaram armas sem ter os títulos necessários, adentraram lugares amaldiçoados que ninguém deveria ir e, dificilmente, se curvaram para alguém só porque eles são nobres ou algo do gênero.

Julgamentos: Como era decidido se uma pessoa era culpada ou não de um crime ou ofensa da qual foi acusado? Dificilmente irão existir cortes para julgamentos nos mundo medievais nos quais são ambientados nosso jogos (embora não seja impossível em alguns cenários que são mais desenvolvidos, civilizados e menos "sword & sorcery"). Para saber se a pessoa era culpada ou não, as autoridades usavam diversos métodos pouco usuais, como ver quantas pessoas (que possuíam mais direitos) apoiavam o acusado ou o ofendido; ou colocavam as partes em disputa, as vezes decidindo as coisas com um duelo; ou métodos totalmente viciados como fazer com que o acusado botasse suas mãos no fogo, dizendo que os inocentes não teriam as mãos queimadas e coisas do tipo. Para variar, quem escolheria a maneira do julgamento seriam as autoridades, que, com certeza, manipulariam os métodos para que seus inimigos fossem condenados, e para que seus aliados fossem absolvidos.

Punições: As punições, assim como todo o sistema penal, não costumavam ser codificadas e padronizadas. Elas podiam depender mais da autoridade que iria decidir a pena do que o crime cometido. Se o acusado fosse alguma desavença dela, provavelmente a pena seria dura, cruel e possivelmente fatal, mesmo para ofensas não tão graves. Já se o acusado fosse algum favorecido, aliado ou outra pessoa que tivesse influências, as penas, provavelmente, seriam mais brandas e com possibilidade de serem anuladas com o pagamento de alguma taxa.

Isso é apenas o começo, um resumo de ideias a serem desenvolvidas de acordo com o cenário de cada um. Algumas pessoas vão querer que em seus mundos, as injustiças não sejam tão grandes assim, e exista um sistema de leis e punições mais similares ao nosso mundo atual. Outras pessoas vão querer justamente o contrário. Vão demonstrar como os valores são totalmente diferentes dos que nós temos hoje. Que a justiça (como nós a vemos)se tiver que ser feita, deverá vir dos personagens dos jogadores. Nobres corruptos, Capitães da Guarda desconfiado de aventureiros, uma Nobre vingativa que foi rejeitada por um aventureiro, e vários outros personagens podem dar bons vilões para uma campanha, criando diversos problemas que nem sempre vão poder ser resolvidos com uma bola de fogo.

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3 comentários:

  1. Um das coisas mais divertidas do nosso saudoso Blacksand era a a parte de leis e punições da cidade.
    As tabelas de punições tem coisas muito "legais" como: "Arremessado de catapulta" ou ainda "esquartejado por 4 cavalos"...muito legal!

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  2. Acho que essa do esquartejamento por cavalos é o famoso "tripalium", de onde vem a palabra "trabalho", daí a conotação negativa associada ao trabalho.

    Gostei bastante do artigo. Os juizes num feudo eram os Senescais, que acumulavam as funções de adminsitradores do feudo e da produção, e admistradores da justiça. Os julgamentos eram feitos no "hallmoot" (salão das discussões), ou então no salão principal do castelo (a chamada "manor" ou "solar" senhorial).

    Os bailios ou xerifes (contração de "shire reeve", feitor do condado) eram a polícia. Vigiavam os celeiros e o estoque de grãos. Não eram muito populares. Além do fato de geralmente cobrarem os impostos. Eles eram o braço armado da justiça e do senhor feudal.

    Nos feudos ainda tinham o guarda-caça e o pastor.

    Guarda-caça - protege os bosques e os animais do manso comunal, assegura-se de que todos obedeçam às leis do Senhor na floresta, que ninguém se aproxime, decide que árvores devem ou podem ser cortadas, e planta novas árvores.

    Pastor – o responsável pelos pastos e animais de criação, deles cuidando.

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  3. Ótimo tema.
    Quanto mais injusto melhor.

    Se os personagens são os herois, que eles brilhem sobre as trevas, ou sejam corrompidos por elas.

    Adoro gerar conflitos morais jogador x personagem. Algo muito interessante de ser explorado é o preconceito racial.

    Deixo um gancho aqui:
    Um Nobre Honrado, talvés o NPC de algum jogador, por algum motivo odeia uma raça específica - escolha um dos membros do grupo que pertencer a uma raça diferente dos demais. Se o grupo for todo composto de uma raça, faça o preconceito ser baseado numa etnia ou casta/classe social.

    Faça o nobre receber bem o grupo com hospitalidade, se mostrando um precioso aliado, porém ele evita o personagem em questão.

    Em algum momento da história, ele vai acusar o personagem (justa ou injustamente) de cometer um crime, tendo escolhido uma punição severa demais para ele.

    Deixe o dilema de crime e castigo, ódio e preconceito, e confiança entre os jogadores, o resultado pode ser único.

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