segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crise do RPG no Brasil - Fala Sério...

Não rolou esse ano, mas os organizadores
merecem aplausos por mantê-la esses
anos todos. Ano que vem sai!
É, não vai ter RPGCon esse ano. Segundo alguns, isso é sinal do "Fim dos Tempos" para o RPG no Brasil. Ao que parece, isso só prova o quanto o mercado do Brasil é fraco, não se sustenta e está fadado a desaparecer. Além disso, alguns dizem que já anunciavam isso há muito tempo, que o cenário brasileiro está falido e que nada vende, ninguém joga e tudo acaba. Era óbvio que isso ia acontecer. Com o anúncio do cancelamento da RPGCon, logo viriam os arautos do apocalipse, falando para todos que quisessem, ou não, ouvir que o RPG no Brasil estava morrendo.

Bem, eu não sei quanto a vocês, mas eu não consigo enxergar isso não. Aliás, meus olhos me mostram algo totalmente diferente. Mas talvez seja somente eu, não é? De qualquer forma, como exercício para manter minha sanidade, vou enumerar as coisas que fazem com que eu ache que o cenário RPGístico no Brasil está caminhando bem. É importante frisar que eu não acho que estamos em um mundo ideal, claro que não, mas realmente acredito, e com base no que converso e tenho contato com pessoas envolvidas no meio (até tenho um envolvimento pequeno aqui e ali), que o RPG por aqui está caminhando firme, ainda com um longa estrada a sua frente, mas ele se levantou do tombo que tomou há alguns anos atrás.

1. Novas Editoras: Há alguns anos tínhamos apenas duas editoras no mercado brasileiro, a Devir e a Jambo (e antes ainda, só tinha a Devir e olhe lá). Cada um com seu acervo um tanto restrito de títulos, lançando seus jogos em uma cadencia um tanto lenta. Sim, houve a tradução de grandes títulos estrangeiros, como Vampiro, Lobisomem, GURPS, Dungeons & Dragons, e eles vendiam até bem (dizem que D&D 3ª edição vendeu 10 mil cópias, mas, afinal, é o jogo mais jogado do mundo). Mas em relação a RPGs nacionais, eles tinham uma expressividade muito pequena, a não ser por aqueles que vieram da antiga Dragão Brasil, liderada pelo trio Tormenta. Hoje, temos mais editoras do que eu me atrevo a citar (medo de esquecer alguma). Praticamente todas com jogos de autores nacionais e estrangeiros, de gêneros diversos, preços variados (uns mais acessíveis e outros menos), e com um fluxo de lançamentos constantes. Há quem diga, que se tem variedade, a quantidade de vendas é mínima (já que, teoricamente, o mercado está falindo). Bem, não é isso que as próprias editas dizem e demonstram (afinal, se eles não estão tendo retorno, porque continuam lançando tantas coisas novas? São loucos?). Tiragens se esgotam, edições de luxo vão para uma segunda leva, jogadores pedem por mais e mais lançamentos, jogos são lançados por financiamento coletivo. Enfim, pode ser que nenhum título, individualmente, venda 10 mil unidades, mas se juntarmos tudo o que foi produzido nesses últimos dois anos, não me surpreenderia se chegássemos bem próximos desse valor.

2. Encontros de Jogadores: Por todos os lados se espalham encontros de jogadores de RPG, organizados por eles mesmos, com apoio de novas editoras, lojas e outras coisas. O jogador brasileiro percebeu que não precisa ficar dependendo de um "líder" para organizar algo e fazer o hobby crescer, ele mesmo pode e deve fazer isso. Hoje, aqui no Rio de Janeiro acontessem diversos encontros de jogadores, dois deles que eu frequento, contam com mais de 40 participantes todos os meses, e não são sempre as mesmas pessoas (eu vou no Saia da Masmorra e no Dungeon Carioca). Sei que pelo Brasil acontecem diversos outros encontros, como o RPG Pará, RPG Salvador, RPG 4 Newbies (de Porto Alegre), o D30 em Brasília, Quero Jogar RPG em Belo Horizonte, entre outros (quem quiser e puder, por favor, deixe nos comentários onde há mais encontros). E é nesses lugares que eu vejo que o hobby está crescendo sim. Todo encontro eu vejo gente nova, que não via antes. Gente que nunca jogou nada e está indo ali conhecer. Vem namorada, filho, sobrinhos, enfim, gente que adiciona ao hobby. Sem contar que esses encontros estão trazendo diversos dinossauros do RPG de volta a luz. Gente que tinha parado de jogar e agora está voltando graças aos encontros, conhecendo gente nova e formando novos grupos.

3. RPG Nacionais: Para mim, outro forte indício de como o cenário nacional está caminhando na direção certa, é o surgimento de diversos títulos brasileiros, que caem no gosto da galera facilmente. No passado divemos algumas editoras, como a GSA (de Tagmar, Desafio dos Bandeirantes, Millenia), tivemos jogos como o Defensores de Tóquio (que está aí até hoje, firme e forte), o Sistema Opera, Daemon e outros, mas que não andaram desaparecidos. Agora, temos diversos títulos saindo em intervalos constantes. Temos o Old Dragon (que atrai tanto novatos como veteranos), o Abismo Infinito (Horror Pessoal que deixa no chinelo muito título importado); o Terra Devastada (Sobrevivência ao Apocalipse Zumbi, com sistema que deixa você fazer de tudo); Space Dragon (Ficção Científica Pulp); Mighty Blade (Fantasia Medieval simples e heróica); Violetina (Jogo Narrativo a lá filmes do Tarantino); Tagmar II (Revisão e ampliação do primeiro RPG Nacional); e outros que não consigo lembrar e estão por vir, muito em breve. Hoje, ninguém tem vergonha de jogar um título nacional. Diferente da mentalidade que algumas pessoas tinham há alguns anos de que só o que prestava era o que vinha de fora.

4. Repercussão Internacional: Falando dos títulos nacionais, é legal comentar que eles estão tendo repercussão lá fora também. O Old Dragon, por exemplo, já apareceu diversas vezes sendo citado e comentado no mais conhecido blog Old School, o Grognardia. O Violentina, do Eduardo Caetano, foi citado em convenções, fóruns e outros lugares e está sendo requisitado para traduções lá para fora. O Brasil vem se destacando no mercado exterior com suas novidades e jogos. Se isso é um cenário em crise, é uma pena que essa crise não tenha começado antes.

5. World RPG Fest: Tudo bem, não rolou RPGCon, mas rolou World RPG Fest! Sim, este é um encontrão, um eventão, no nível da RPGCon, com convidados internacionais, palestras, workshops, estandes de editoras e tudo mais. Sabe quem foi lá esse ano? Monte Cook, um dos designers de jogos mais aclamados do mundo! Cara, o evento foi um sucesso e ano que vem promete ser mais ainda. Ou seja, continuamos a ter um grande evento, se rolar RPGCon, teremos dois.

Enfim, pode ser que tudo que eu tenha dito aqui não passe de delírios meus. Afinal, eu sou só um cara que gosta de RPG e escreve na internet no seu blog e quer chamar atenção (alguns usam adjetivos ainda piores para mim, mas vai que tem criança lendo isso). Mas é isso que eu penso e vejo por aí, inclusive confirmando informações com pessoas da Redbox, Retropunk, Coisinha Verde.

Mas e vocês, o que vocês acham? Acham que isso tudo é só uma ilusão, moda temporária, fogo de palha? Ou acham que estão sendo criadas bases para um desenvolvimento maduro do hobby? Ou acham que não existe nada disso que eu falei e estou inventando tudo isso?

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9 comentários:

  1. Em BH tem o Quero Jogar RPG, há mais de 2 anos. Em outubro terão sido 25 encontros. Site do evento é querojogarprg.com e tem o twitter @querojogarrpg

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    1. Como pude esquecer? Ficava com mô vontade de ir só lendo os comentários do Tio Nitro sobre os encontros! Valeu por lembrar-me!

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  2. Apesar de jogar RPG, nunca fui um cara engajado no meio RPGístico. Jogo há 11 anos e posso dizer pelo que vejo aqui na região de Florianópolis/SC que o hobby não está renovando. Há até jovens querendo se iniciar, mas falta grupos/mestres. Muitos dos jogadores antigos ganharam responsabilidades da vida adulta (como eu) e não podem se dedicar ao hobby como antes.
    Em contrapartida, esses mesmos jogadores antigos ainda gostam de comprar livros de RPG nem que seja pra ler e se entreter com o cenário apresentado, e com o poder aquisitivo maior vindo do trabalho próprio (não sendo mais sustentado pelos pais) acaba movimentando o mercado do mesmo jeito. Eu mesmo tenho livros que nunca usei e provavelmente nunca usarei. Fora o fato da molecada de hoje em dia preferir os card games, e ainda muito mais os videogames.
    Não sei se é realmente isso, mas pelo menos é assim que eu vejo as coisas por aqui.

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  3. Diogo, usando a mim mesmo como exemplo... Depois de 2004/2005 eu abandonei o RPG. Não por não gostar mais, mas justamente pelas outras prioridades em minha vida. Eu sempre tive um pouco de preconceito com RPGs nacionais, e sempre preferia os grandes lá de fora(D&D, WoD). Assim que descobri a OSR e as novas editoras nacionais, principalmente Retropunk e Redbox, eu voltei a ter aquele entusiasmo de antes. E hoje em dia, não vejo a hora dos próximos lançamentos do OD, que se tornou meu sistema favorito.

    abraços

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  4. Olha, nem sei o que foi que gerou essa revolução, mas não acho que o RPG esteja em baixa. Apesar de meu grupo não ter se encontrado legal com o Old Dragon, o jogo é muito massa. Inúmeros lançamentos que vi esses meses, infelizmente não pude comprar todos, mas quem sabe no futuro. Acho que a única barreira ao RPG hoje é o tempo que muitos jogadores não possuem para jogar mais do que uma vez por semana, ou uma vez por quinzena, mas o nosso hobby está mais forte do que me lembro.

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  5. Ainda que não sejam todos os lugares que estejam apresentando eventos e novos jogadores, compatilho a visão do Diogo.

    O simples fato de termos um brasileiro representando uma editora em um evento internacional já seria digno de comemoração.

    Mas fora isso temos visto autores e editoras sendo citados, eventos diferenciados e com qualidade, oficinas, blogs e sites espalhados aos quatro ventos, e muita coisa bacana e inovadora inclusive sobre temáticas antigas, mostra de que o RPG tem uma capacidade ímpar não apenas de se inovar, mas também de reciclar e se reinventar.

    Tenho visto moleques de 7, 8 anos, ampolgados com o RPG, adolescentes de 12-13 anos jogando não apenas o feijão com arroz (jogos mais conhecidos), mas RPGs antigos e novos, com igual prazer.

    Sim, ainda temos uma série de problemas no mercado, mas cacilda, não dá para dizer que não estamos melhor do que há 5 anos, por exemplo.

    Se vai continuar bom ou ruim, bom, vamos ver, mas AGORA o cenário está muito bom. Resta ajudar a manter as coisas assim.

    Vida longa e próspera.

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  6. É, e agora que você conhece as figuras, vai ver que eles aproveitam qualquer oportunidade, mesmo que não tenha nada a ver, pra fazer essas profecias do apocalipse. O mercado de RPG sempre foi pequeno (nos anos 90 só foi modinha como tudo nesse país). No caso do RPGCon, foram vários fatores, nenhum deles a ver com "morte do RPG".

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  7. O blog "Cavaleiros Insones" essa semana colocaram uma postagem sobre editoras brasileiras de RPG. Coisa pacas.

    é questão do pessoal aprender com erros do passado e não repetí-los, (se for pra errar, que sejam erros novos, hehehe).

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