quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Cenários Fantásticos - Dark Sun - O Mundo Selvagem de Athas

Os ventos da mudança finalmente sopram nas areias desse mundo terrível. Por milhares de anos as coisas permaneceram as mesmas, com os Reis-Bruxos impondo seus desejos, caprichos e vontades sobre todos ao seu redor. Guerras entre as Cidades-Estados ocorrendo de tempos em tempos, mas não para lutar por mudanças boas ou necessárias, mas apenas para testar o poder de um déspota insano sobre o outro.

Mas os ventos da mudança finalmente chegaram. Kalak, o Rei-Bruxo de Tyr está morto, e, agora, está é a primeira Cidade-Estado livre de toda a região. O Feiticeiro foi morto não por um de seus rivais, mas por mortais, como eu e você, dotados de coragem e vontade. Agora, muitos questionam a imortalidade e o domínio que os Reis-Bruxam mantém a milênios sobre o mundo. Os ventos chegaram, agora, resta saber para onde iram soprar...


Dark Sun é um cenário de Dungeons & Dragons, publicado em sua primeira edição em 1991, na época, para o AD&D 2ª Edição (Ele teve uma segunda edição para AD&D, uma edição feita por fãs para a terceira edição e ressurgiu na quarta edição de D&D). Se pudesse resumir sucintamente o cenário, diria que ele é um "mundo pós apocalíptico, desértico, onde apenas os mais fortes sobrevivem e a esperança, assim como água, comida e metais, são extremamente raros".

O mundo de Dark Sun, Athas, até onde se sabe, é um grande deserto. Mas não um grande deserto de areia, simplesmente. Há diversos tipos de desertos. De pedra, colinas desérticas, desertos de areia amarela, areia negra, fina, areia movediça, enfim. Apesar de parecer que seria um mundo todo com a mesma cara, há diversas paisagens selvagens, desoladas mas com um esplendor exótico. Há, em pontos isolados, secretos, ou muito bem guardados, fontes de água, florestas e outras áreas remanescentes de eras passadas. As grandes Cidades-Estados ficam em grandes oásis, onde a água é racionada entre os habitantes, e estes são forçados a servir os tiranos Reis-Bruxos para obter proteção, água e comida. Fora dessas cidades a vida é extremamente dura e perigosa. Criaturas terríveis, bandidos e selvagens vagam pelos desertos. Cada deve escolher se prefere a liberdade perigosa e mortal do lado de fora das Cidades-Estados, ou se submeter à tirania dos Reis-Bruxos nas cidades. É um mundo onde apenas os mais fortes sobrevivem, em que a magia é corruptora, os deuses são inexistentes e até mesmo uma formiga pode ter poderes psiônicos latentes.

Mas Athas não foi sempre assim. No início, na Idade Azul, o mundo era bem diferente, com oceanos cobrindo quase toda a superfície do planeta. Nessa época, as duas únicas raças inteligentes eram os halflings e os Thri-Kreen (uma espécie de louva-deuses gigantes). Ambas viviam em harmonia com a natureza e o planeta, os halflings até desenvolvendo maneiras e técnicas de integras a natureza com o dia a dia deles, mas um grupo de halflings foi além, e começou a experimentar com maneiras de alterar as formas de vida de maneira imoral. Na tentativa de aumentar o poder vital dos oceanos, de onde tiravam boa parte de seu sustento, eles acabaram criando a "Onda Marrom", que acabava com a vida onde quer que ela chegasse.

Oceanos secaram, paisagens inteiras foram modificadas, o mundo que eles conheciam se transformava rapidamente. Alguns dos mais sábios halflings da época, com conhecimento dos poderes da natureza, construiriam a Torre Pristina para, com a ajuda do Sol, parar a "Onda Marrom" para sempre. Eles conseguiram isso, mas trouxeram grandes mudanças ao mundo, também. A "Torre Pristina", com seus poderes, alterou as propriedades do sol, que deixou de ser azul e claro (como uma safira), para se tornar amarelo como o nosso. O mundo que era coberto por um gigantesco oceano único, era dividido em grandes continentes e mares menores. A torre ainda fez com que mutações começassem a ocorrer em vários locais, principalmente os mais próximos a elas, começando o que ficou conhecido como "O Renaiscimento". Outras raças como a humana, a élfica, a anã, a orquica e diversas outras começam a surgir pelo mundo, assim como diversos outros seres e criaturas. Com o passar do tempo, a intensidade dos poderes da torre foi diminuindo. Ao longo de centenas e milhares de anos, essas raças e povos foram se desenvolvendo e se expalhando. Grandes cidades foram fundadas, como Tyr, e os primeiros seres capazes de utilizar poderes psiônicos foram surgindo.

Então, em algum ponto, nasce um ser que iria mudar para sempre o destino de Athas, Rajaat. Ninguém sabe exatamente quem ele era, como ele era, a que raça pertencia, mas todos os registros apontam para o fato dele ser diferente, único, estranho. Esse ser de alguma forma resolve se isolar para estudar as propriedades estranhas do mundo e acaba descobrindo a existência da magia arcana. Rajaat quase morreu no processo, mas descobriu a possibilidade de usar a energia vital do mundo para produzir efeitos extraordinários. Assim, sabendo das propriedades estranhas da Torre Pristina, ele se refugia lá para aprofundar seus experimentos, deixando o lugar somente depois de descobrir a magia "preserver" (que não destrói a natureza e a vida ao redor) e a "defiling" (uma magia mais poderosa, mas que suga a energia vital ao redor), centenas de anos depois. Essa descoberta fez com que o sol de Athas deixasse de ser amerelo, se tornando rubro.

Durante séculos Rajaat ensinou a vários povos do "Renascimento" a magia "preserver" e escolhia apenas alguns poucos indivíduos para ensinar a magia "defiling", querendo descobrir que raça era a mais capaz e talentosa para esses poderes. Depois de muitos testes, ele chega a conclusão de que os humanos seriam os mais talentosos para a magia arcana e, então, ele escolhe alguns "Campeões" entre seus discipulos e os ensina os maiores segredos da magia corruptora (defiling). Com o tempo, Rajaat começou a discipliná-los e convencê-los de que a era em que viviam era corrompida e suja, que era necessário voltar aos primordios das eras passadas, que as outras raças eram impura e era necessário eliminá-las. Assim, tomando para eles o poder os Campeões de Rajaat iniciaram o que ficou conhecido com as "Guerras de Limpeza" (Cleansing Wars). Cada Campeão ficou encarregado de eliminar algumas raças e, ao longo dos anos, eles foram conseguindo ser bem sucedidos em suas tarefas. Orcs, Kobolds, Trolls, Gnomos e outras raças foram totalmente extintas.

No entanto, Boris, um dos Campeões, descobriu as verdadeiras intensões do louco Rajaat. Ele não pretendia limpar o mundo das raças ditas impuras e deixar os humanos como os seres dominantes. Seu plano era entregar Athas de volta aos Halflings, agora selvagens, já que eles eram a raça dominante na chamada Era Azul. Rajaat pretendia trair a raça humana, assim que seus campeões tivessem cumprido suas tarefas e estivessem enfraquecidos. Por isso, Boris convence alguns dos Campeões a se voltar contra Rajaat e uma grande batalha se inicia. Com muito sacrifício eles conseguem conter o primeiro feiticeiro, mas sabiam que não iriam conseguir mantê-lo aprisionado para sempre. Assim, os Campeões se juntam para realizar um ritual que transformou Boris em um dragão, O Dragão, e assim conseguir manter Rajaat preso em uma prisão extra-planar. O plano funciona, mas agora, era necessário sacrificar 1000 vidas periodicamente para manter a prisão efetiva.

Cada Campeão remanescente toma uma cidade para si e se auto-intitula Rei-Bruxo do local, surgindo as Cidades-Estados. Nem todas as raças foram exterminadas, mas as guerras transformaram Athas para sempre em um mundo desértico, e quase morto. Os oceanos desapareceram, ficando em seu lugar oceanos de areia fina. Os Reis-Bruxos instituem um sistema de castas e escravidão em suas cidades e oferecem anualmente um cota de sacrifícios para o Dragão Boris continuar sua tarefa, ao mesmo tempo em que tentam, secretamente aumentar seus poderes consumindo a vida de outras pessoas. Poderosos e com poderes que vão além da magia arcana, os Reis-Bruxos oferecem poderes àqueles que servirão como seus tenentes, os Templários. Dessa forma, em algumas cidades, eles são tidos como deuses, cruéis mas, mesmo assim, deuses, que devem ser adorados pelos seus súditos.

A situação do mundo se mantém basicamente esta por milhares de anos, e a verdadeira história sobre como tudo começou é esquecida por quase todos, fora os Reis-Bruxos e alguns pouquíssimos indivíduos que, se revelassem o que sabem, seriam caçados como nas guerras passadas. A vida em Athas se resume a sobreviver à tirania dos Reis-Bruxos na cidade ou à selvageria de criaturas, bárbaros ou da natureza nos desertos. O mundo é decadente, em ruínas e muito diferente do mundo de fantasia tradicional. Os elfos não são seres nobres, sábios e adoradores da natureza, eles são como ciganos trapaceiros, muitas vezes odiados, e, tantas outras, temidos. Os anões, muito diferente dos mundo tradicionais, são carecas e sem barba, todos com uma obsessão em algo e muitas vezes escravizados. Halflings não são os pacatos moradores de túneis que conhecemos, mas bestas selvagens, canibais e furiosas. Enfim, é uma outra visão, que quebra esteriótipos e paradigmas, sem contar as raças exclusivas do mundo como os Thri-Kreen.

Vale lembrar, ainda, que em Athas, não há deuses, e por consequência, não há clérigos, paladinos e outras classes que dependem da existência dos primeiros. Os planos não se comunicam bem com o planeta, seja devido a ausência de deuses e por experimentos arcanos no mundo. Psionismo é bastande difundido e aceito, ao contrário da magia arcana, que é odiada e culpada pela destruição do planeta (até mesmo os preservers são odiados, já que a pessoa comum não sabe a diferença entre os tipos de magia). Adicione a tudo isso luta de gladiadores, poderosas casas de comércio, intrigas, sociedades secretas, guerras de poder, escasses de recursos, água, comida e metais, e ruínas de eras passadas.

Dark Sun é um cenário muito rico e bem elaborado, influenciado pela literatura de fantasia e ficção pulp (quem não lembra de Barsoom em Athas?). Seria impossível retratar completamente esse mundo em um único artigo aqui no blog. Meu objetivo foi apenas apresentá-lo de forma resumida, contando um pouco de sua história (que é bem mais detalhada) e falando um pouco de suas características. É um cenário que merce muito ser revivido e conhecido. O Dark Sun que saiu para a quarta edição de D&D é, apesar de tudo, um bom suplemento e dá para ter uma boa ideia do cenário. Seria uma boa se a WotC trouxesse ele de volta, ou mesmo republicasse as caixas de AD&D, nem que seja em formato digital. Mas enquanto isso não acontece, vou ver se jogo umas seções de Dark Sun usando o Savage Worlds que a Retropunk vai lançar!

Quem quiser conhecer mais sobre o cenário, há uma série de romances ambientados em Athas, muito legais por sinal, principalmente a série intitulada "Prism Pentad".

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7 comentários:

  1. Muito bom Diogo, eu que não conhecia o Dark Sun, achei muito legal. Agora é só comprar um livro para ler :)

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  2. Muito bom o texto, era uma livro que se a Devir lançasse eu compraria.

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  3. De longe meu mundo preferido de AD&D, pois tenho uma preferência sobre o estilo low magic.

    E a ambientação selvagem desse lugar me fascina.

    Atualmente jogo nunca nessa de AD&D de Planescape, onde fiz um personagem Athasiano, um Mul gladiador. Mas o que eu queria mesmo é jogar em Athas... Isso sim seria o ápice!

    Excelente post e grande abraço a todos!

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  4. Eu tenho, até hoje, um box do dark sun que tem até um mapa de pano, comprei uma expansão também a muito tempo atrás, boas lembraças!

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  5. muito bom o post... preciso parar de ler blogs, pq cada vez mais fico ansioso para jogar coisas novas hahah

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  6. Quem quiser jogar uma campanha de Dark Sun com as regras de GURPS estou montando mas vai demorar pra fechar todos os detalhes mas fica o convite. Campanha semi-realista porque GURPS é bem realistico.

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  7. Estou finalizando uma adaptação baseada no boxed set de Dark Sun para D&D 5e. Já adaptei o livro dos Psiônicos. Quem tiver interesse, me chama no telegram. @rmaiabr

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