quarta-feira, 14 de março de 2012

Crônicas da Terceira Era - Anoitecer - Parte III


Metade do que devia fazer ali, já tinham feito. Duas das pedras que, provavelmente, os levaria até o artefato negro tinham sido recuperadas pela companhia. Faltavam mais duas, sobre a guarda de mais dois mortos que se levantariam com o poder da Inimigo.

Elmara fora ferida gravemente na batalha contra uma das criaturas. Uma perfuração no lado esquerdo do seu tronco jorrava muito sangue e ela sentia que não conseguiria lutar com a mesma força de antes. Por isso, ela sugeriu que ficasse no salão do altar vigiando a entrada daquele complexo e as runas negras que fossem colocadas no centro da elevação. Achando mais seguro, todos concordaram e Aerandir, Drarin e Klandrin acenderam uma tocha e andaram em direção ao corredor oeste, que da mesma forma que o leste, levava até uma grande porta dupla de pedra com a imagem de um elfo e uma elfa em trajes nobres.

Já preparados, devido ao incidente em que foram pegos de surpresa por uma armadilha ligada ao portão do túmulo anterior, os aventureiros decidiram verificar se não haveria nenhuma surpresa desagradável nas portas de pedra. Drarin, com seus olhos afiados, examinou o vão entre as duas portas e viu um ganho que se abriria com a abertura da mesma, provavelmente liberando a espada de pedra afiada que viria em direção àqueles que adentrassem o recinto. O anão, então, conhecendo este tipo de mecanismo, frequentemente usado em fortalezas de seu povo para proteger certos locais, conseguiu travar o gancho para que quando abrissem os portões a espada não caísse.

Depois disso, os três entraram em um aposente muito parecido com a tumba anterior. Havia dois túmulos, um no centro do lado esquerdo e outro no centro do lado direito. Uma grande pilastra de pedras escuras dava sustentação ao local e tinha apoios para tochas e lanternas. Atrás de cada um dos caixões, uma estátua de tamanho natural de um ser encapuzado segurando uma espada parecia olhar para os invasores daquele lugar amaldiçoado. Todos sabiam o que tinham que fazer, abrir as tumbas e pegar as runas negras.

Enquanto Klandrin olhava mais atentamente as estátuas sinistras, prestando atenção nos detalhes e perfeição com que foram feitas, seu amigo, Drarin, decidiu abrir a tumba da esquerda, que tinha a figura de um nobre elfo esculpida na tampa. A grande pedra deslizou fazendo barulho e um sonoro baque ao ser apoiada no chão. O corpo de um elfo alto de cabelos negros e cumpridos, vestindo uma cota de malha prateada, segurando uma grande espada e com uma pedra negra apoiada em seu peito podia ser visto.

Nesse momento, Klandrin lembrou de tudo o que aconteceu do outro lado, da luta terrível com aquelas criaturas do mal e decidiu dar o primeiro golpe. Empunhando seu grande machado de duas mãos, o anão o levou até acima de sua cabeça e com um grito de raiva golpeou a criatura que jazia deitada. A força do golpe quase fez com que a cabeça dela fosse arrancada. O impacto, ainda, serviu para desequilibrar a pedra que deu um salto, encostando no braço do anão, antes de cair no chão.

O toque daquele artefato fez o aventureiro sentir um arrepio estranho em sua espinha. Ao mesmo tempo, o elfo deitado na tumba levantou-se com um grito terrível, apenas para ser jogado para fora do caixão com uma machada no seu peito por Drarin. Aerandir, aproveitando o desequilíbrio da criatura, foi capaz de acertar uma flecha no crânio do monstro, e este ficou caído, no cão. Mas apenas por alguns segundos. Um brilho vermelho no olho da criatura parecia indicar que ela não podia ser vencida com simples golpes de machado e perfurações de espadas. A luta continou, com Klandrin usando todo a sua habilidade e força para manter o monstro longe de seus amigos. Seu companheiro anão, vendo que a criatura das trevas não parecia se render, decidiu por abrir a segunda tumba, onde uma elfa, com trajes nobres e pele esticada sobre os ossos, estava deitada, para pegar a outra pedra.

Quando o morto-vivo viu que o anão estava equilibrando a runa negra sobre a lâmina larga de seu escudo e se dirigia para fora do aposento, ele entoou palavras de poder no idioma negro e saltou por cima de seu antigo lugar de descanso para atacar o aventureiro. A lâmina de sua espada veio por cima, mas em um reflexo rápido Drarin se defendeu com seu escudo. No entanto, isso fez com que ele derrubasse a pedra que equilibrava em sua arma.

A influência das trevas no local se tornava mais forte e sensível a cada segundo. A batalha a cada troca de golpes, ferimentos e gritos de dor parecia mais perdida para os heróis, aquilo foi deixando o coração de Klandrin cheio de dúvidas, angústias e sofrimento, até que ele não viu outra alternativa se não sair dali, fugir da escuridão e buscar a claridade. O anão correu, empurrou a criatura de sua frente e voou pelo corredor. Em sua pressa acabou chutando uma das Pedras Negras no chão para fora da sala, em direção ao corredor escuro.

Elmara, que estava de guarda no salão principal, achou estranho a vinda do anão correndo e tentou questioná-lo sobre o que estava acontecendo. Klandrin, entretanto, ignorou a presença da dúnedan e quase a atropelou com seu peso. O anão seguiu seu caminho, subindo as escadas que levariam para fora daquele lugar maldito, para as masmorras da fortaleza da Casa de Faerel. Elmara, em desespero, foi atrás de seu amigo, mas ao sair da masmorra não viu mais nenhum sinal dele, apenas podia ouvir o som da batalha que ocorria acima deles. Gritos de desespero, dor e socorro.

Então ela se lembrou do porque de estar ali. A missão que recebera de recuperar e destruir os artefatos negros. Ela voltaria para o interior da catacumba para ajudar seus amigos. Aerandir e Drarin, no entanto tinha se retirado da batalha também. O anão, quase que por sorte, conseguiu recuperar uma das pedras negras no corredor e fugira para fora daquele lugar, quando, então, encontrou a dúnedan.

Aerandir e Drarin estavam amedrontados e queriam deixar o local para retornar depois mas Elmara, consciente de que aquela podia ser a única chance que teriam disse que não sairia de lá sem o artefato. O elfo e o anão não podiam deixá-la sozinha lá dentro, por isso voltaram para lá, junto com ela.

O local estava em completo silêncio. Uma escuridão gelada cobria todos os cantos e a sensação que tinham era que os espíritos malignos estavam prestes a saltar sobre eles. Elmara e Aerandir foram a frente, ela segurando a Pedra de Varda que iluminava o caminho e ele com uma tocha e sua espada élfica. Ao chegarem em frente à porta dupla de pedra que dava para as tumbas do corredor oeste, onde enfrentaram o elfo morto-vivo, eles não viram nenhum sinal da criatura e a sala estava  silenciosa.

No entanto, ao adentrarem o recinto, distraídos pela aparente segurança do local, foram surpreendidos por dois elfos carniçais que os atacaram com suas espadas negras. Elmara conseguira ser rápida e se defendeu com seu escudo, mas o Aerandir não foi tão rápido e foi ferido por uma elfa cadavérica usando armadura prateada.

Vendo seus amigos sendo atacados impiedosamente por aquelas criaturas, Drarin observou o local e viu que a pedra que precisavam recuperar estava dentro de uma das tumbas e correu para pegá-la. Ao mesmo tempo, a dúnedan era perfurada pela lâmina escura da espada do elfo carniçal e caia inconsciente no chão gélido da catacumba. Aerandir, vendo que seu companheiro conseguira segurar e pedra gritou: "Corra, vá embora e pegue o que viemos buscar, tentarei segurá-los aqui".

O anão correu o máximo que pode. As criaturas, percebendo que ele agora possuía a última pedra negra tentaram alcançá-lo mas não foram rápidas o suficientes, estavam feridas e sendo atacadas por Aerandir. Drarin colocou a última pedra que faltava no centro do salão, em seu devido lugar. Pegou a adaga negra que achara no altar atrás dele e fez um corte em sua mão para que sangue escorresse nas runas. De repente toda a masmorra começa a tremer e o círculo no meio do aposento começa a se abrir. Dentro dele, em um pedestal estava apoiado o que parecia ser um cetro feito de metal escuro, com uma pedra obsidiana na ponta. Sem ter tempo para ponderar sua ações o anão agarrou o artefato e fugiu para fora daquele local. Ao tocá-lo ele sentiu uma voz, ecoando em sua mente, lhe prometendo riquezas e glória, em troca de lealdade. Mas ele resistiu, ela sabia o que aquilo era e a quem servia.

Ao subir as escadas o anão se deparou com uma situação terrível, ao que parecia, as aranhas da floresta estavam vencendo a batalha. Corpos dos guerreiros elfos podiam ser vistos em diversos lugaras e uns poucos sobreviventes corriam para onde podiam. Quatro elfos usando cotas de malha, e túnicas nas cores preto e preta ofereceram ajuda ao anão para saírem dali, eles tinham cavalos e podiam levá-lo para longe dali por um caminho secreto que corria pelo leito do Rio da Floresta, para o norte. Drarin, desesperado, aceitou a ajuda imediatamente e foi com eles, para fora do vale, para longe de seus amigos com o Artefato Negro nas mãos.

Nas catacumbas, Aerandir, depois de se livrar dos mortos, colocou Elmara nos ombros e a levou para longe dali, em um lugar escondido onde pode tratar de seus ferimentos por algumas horas. Após ter certa segurança de que a companheira sobreviveria, ele decidiu que era hora de sair dali, de forma que ninguém os visse. Foi uma manobra difícil, havia aranhas para todos os lados. Mas ele conhecia a floresta como ninguém, ele viveu centenas de anos naquela região e, depois de quase serem surpreendidos por uma gigantesca aranha de cor de sangue, eles estavam seguros. Agora, ele precisa apenas procurar um abrigo e esperar que sua amiga acordasse.

Ao norte, cavalgando rapidamente, Drarin e os quatro elfos chegavam ao ponto onde deviam cruzar o rio quando pararam. De repente, detrás das árvores ao redor deles saíram treze elfos e um homem de manto negro e armadura. Eram doze arqueiros, com os arcos apontados para o anão, o lorde Sindorfin e ao que parecia um feiticeiro negro. Este estendendo a mão em direção ao anão disse em uma voz gutural: "Entregue o artefato, anão, e sairá daqui vivo". Foi aí que o herói percebeu na armadilha que tinha entrado. As cores das túnicas dos elfos que o ajudaram eram as mesmas da Casa Sindorfin, do elfo que estavam com suspeitas de traição, que os seguiram e tentou escutar a conversa que tiveram com Faeranil. Mas agora era tarde. Ele tinha que fazer algo para evitar que o artefato negro caísse em mãos inimigas. Ele jogou sua mochila na direção de Sindorfin e disse: "Aqui está". O feiticeiro negro, enfurecido gritou "Eu quero o cetro, na minha mão!", mas já era tarde. O anão correu em direção ao rio, caudaloso e violento, para se jogar. Antes, porém os doze arqueiros o alvejaram cruelmente. Ao cair nas águas geladas do Rio da Floresta, Drarin já estava mortalmente ferido, mas sua força de vontade era tamanhã que ele não soltou o cetro, mesmo sendo jogado contra diversas pedras pela correnteza. O herói do povo de Durin sacrificara sua vida para ter certeza de que as forças da Escuridão não se apoderassem daquele item.

Longe dali, dentro de uma caverna úmida, Klandrin acordava. Ele sentiu uma sensação esquisita de que acabara de perder algo muito importante. O cheiro de uma sopa estranha chamou sua atenção. Quando se deu por si, lembrou-se do que tinha acontecido, que tinha abandonado seus companheiros, que se perdera na floresta fugindo da escuridão e que desmaiara de cansaço na floresta. Agora ele estava ali, em uma caverna, onde podia ver um ancião com uma grande barba cinzenta, vestindo trapos e peles amarronzados cozinhando algo em um caldeirão.

- Eu posso levá-lo até seus amigos, Klandrin. Mas você deverá fazer uma favor para mim - disse o estranho homem.

Que outra opção ele tinha?


Essa história está sendo criada em uma mesa de The One Ring - Adventures over the Edge of the Wild. Cada sessão corresponde a uma parte da história, que se cria e modifica conforme todos os envolvidos decidem o que seus personagens fazem e como eles reagem.


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