segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Mulheres no RPG

Há pouco tempo o site Globo.com publicou uma artigo sobre pesquisas que falavam que mais da metade dos chamados "Gamers" são mulheres e, o que gerou muitos comentários, essas mulheres são sexualmente mais ativas e melhor resolvidas do que as "não gamers". Tiveram outros blogs fazendo comentários sobre a pesquisa, dando opiniões, fazendo piadas e outras coisas. Eu não vou entrar nesse assunto para discutir a validade técnica ou não da pesquisa e nem fazer piada sobre o caso. Meu objetivo é utilizá-la para começarmos a pensar sobre o papel da mulher nos RPGs que jogamos, tanto como jogadoras, como personagens e como narradoras.

Inicialmente, queria dizer que jogo RPG há muitos anos, mas apenas recentemente, uns 6 anos para cá, minhas mesas passaram a ter uma presença feminina mais forte. No entanto, só há pouco tempo, lendo alguns blogs, principalmente o da Sarah Darkmagic, comecei a pensar no papel da mulher no nosso querido hobby.

Confesso que até um tempo atrás eu não conhecia muitas meninas que jogavam RPG. As poucas que jogavam só jogavam Mundo das Trevas, mas mesmo assim eram poucas. Mas de lá para cá, tenho visto mais e mais mulheres jogando, e não mais apenas Storyteller. Mas isso nos faz pensar um pouco. Porque Mundo das Trevas? Porque vampiros são sensuais? Claro que não (bem, talvez para algumas pessoas sim, sei lá). O lance é que o Vampiro: A Máscara e seus jogos irmãos passaram a dar uma investida muito forte na ambientação, nas emoções, no romance, no drama. Não que esses elementos fossem ignorados nos outros jogos da época, mas, pelo que me lembro, não eram tão enfatizados. D&D e AD&D eram, e ainda são, por algumas pessoas, vistos como jogos para meninos de matar, pilhar e fugir com a recompensa, só para ir em outra masmorra e fazer tudo de novo (é óbvio que não é assim que as coisas funcionam, mas é fato que esses jogos dão uma grande importância para combates e cenas de ação). Então, parece que as damas são mais interessadas em jogos que possuam uma narrativa mais profunda e envolvente. Isso não impede, claro, que existam mulheres que gostem do velho e bom jogo de Hack 'n Slash. O que podemos concluir com isso? Que elas estão interessadas em jogos inteligentes, que precisem não só de uma ficha bem feita, mas que façam elas pensarem, que façam elas se envolverem. Não pensem que para agradar uma moça que jogue RPG com vocês basta colocar coelhinhos pela aventura, fazer com que ela tenha um carro rosa ou coisas assim. É só criar uma história interessante que envolva os personagens e os deixe fazer a diferença.


Outro aspecto importante de se tocar é o papel dos personagens mulheres nos nossos jogos. Quem são essas mulheres? O que elas representam? E o que elas fazem? Se parássemos para analisar a maioria dos livros de RPG por aí (como fez a Sarah Darkmagic com os livros de D&D) veríamos que uma grande parte dos personagens femininos nos jogos são vítimas, pessoas passivas, indefesas ou sem grandes poderes (Senhor dos Anéis, por exemplo, um ícone para os jogos de fantasia, não possui nenhum personagem feminino de grande expressão fora Galadriel, que por acaso é passiva e não age muito na história, e Eowyn, que é mais ativa que Galadriel e até mata o Rei dos Nazgul, mas passa a maior parte da história escondida entre os homens e sendo mandada ficar com as outras mulheres). Quando existem personagens mulheres mais expressivos, geralmente elas são feiticeiras lindas e sensuais, ladras espirituosas e outras coisas. Tudo menos mulheres de poder e autoridade. Não que não possam existir esses tipos de personagens, mas eles são muito comuns e estereotipados. Mulheres podem ser fortes, e autoritárias também. Elas não precisam ser sempre deixadas em papeis onde usam sua aparência e cérebro apenas (e vou falar uma coisa, a maioria das pessoas acaba fazendo com que as personagens usem mais a aparência). Qual foi a última vez que você utilizou uma personagem feminina como comandante de tropas nas suas histórias? O quão comumente você coloca mulheres em posições de comando nas suas aventuras? O quão ativas são essas personagens na história? Elas tomam iniciativa ou ficam esperando as coisas acontecerem? Essas são perguntas interessantes para refletirmos quando formos criar nossas próximas campanhas. Podemos criar histórias e personagens muito interessantes colocando mulheres em posições que geralmente apenas homens aparecem. Os tempos são outros e, embora, na Idade Média real as mulheres não tivessem muito poder, nos nossos jogos de fantasia elas podem e devem ter essa chance. Na última campanha de Dark Sun que mestrei, criei uma antagonista que era uma Capitã da Guarda de Tyr bem durona. Agora estou mestrando The One Ring, na Terra-Média de Tolkien, e penso seriamente em contradizer o cânone e botar algumas mulheres em posições de autoridade nas minhas histórias.


Por fim, falemos um pouco das narradoras e mestras por aí. Devo dizer que, neste aspecto, tenho menos experiência que em qualquer outro. Acho que só estive em uma mesa que teve uma mulher como mestre. Não por opção minha. Gosto de jogar com mestres diferentes e ver o que posso aprender com cada um deles. Adoraria jogar outras mesas que tivessem uma menina comandando a narrativa, só não tive, ainda, muitas oportunidades. Será que as narradoras são muito tímidas e não vão muito a encontros/eventos? Vou falar um pouco então da única mesa que joguei com uma mulher narrando. Foi uma aventura de GURPS (um sistema que dá muita importância à mecânica do jogo, já começando por uma surpresa), que tinha uma temática de Fantasia de Horror Gótico. Os personagens tinham que escoltar um mago outrora poderoso que estava enfraquecido para que pudesse realizar um ritual e recuperar suas forças. O caminho envolvia uma série de encontro em lugares sombrios e macabros, uma passagem pro baixo de um Necrópolis infestada de mortos vivos e um encontro com uma Banshee louca. Tudo para no final sermos traídos pelo mago. Uma história interessante, e bem diferente do que algumas pessoas esperariam de uma mestra. Ou seja, nada de preconceitos nesse aspecto também. Não vá esperando que só porque uma mulher irá conduzir a sua mesa que você vera pôneis, fadas, princesas e essas coisas. Elas são tão criativas e possuem gosto tão variado como qualquer homem.

Concluindo, o sexo feminino veio para ficar no RPG. Devemos esquecer totalmente os esteriótipos e os preconceitos, sejam com as jogadores, as personagens e as narradoras. Pensemos bem a próxima vez que formos jogar com uma dama ou introduzirmos uma mulher como personagem em nossas histórias. Um último comentário, respeito é fundamental. Minha esposa, antes de me conhecer já jogara RPG, mas não gostou muito. Por que? Bem, porque a personagem dela, sempre que era ferida, era ferida nos seios e os mesmos ficavam a mostra (escolha do narrador, pelo visto). Mesmo sendo piadas, essas coisas ofendem nossas jogadoras e nos fazem parecer crianças idiotas. Um pouco de bom senso e respeito não matam ninguém.

9 comentários:

  1. Pelo fato de Lages ter uma população considerável de rpgistas (mesmo que estejamos exportando eles aos maços para capitais onde há maior acesso a instituições de ensino superior publico e trabalho) eu pude ter varias experiencias com garotas e mulheres em mesas de RPG.
    A primeira foi dois anos após ter começado a jogar, em uma mesa de Vampiro, ciente que a garota tinha conhecimento e experiencia em Mago.
    Não tardou seis meses e havia três em uma mesa de D&D.
    Infelizmente em mesas presenciais ainda não tive o prazer de jogar com elas narrando. Aqui as que cheguei a conhecer tinha preferencia por jogar.
    Através do programa rrpg que frequento a ano e meio comecei a compartilhar experiencias com outros jogadores e ainda em minha primeira semana de uso acabei conhecendo varias mulheres jogadoras e algumas narradoras também. Entre elas minha grande amiga Olani, que cá entre nós, joga de guerreira e ainda faz mixornia com arqueiros e magos (para minha angustia, pois sempre preferi os arcanos), os chamando de covardes e fracos...
    É uma lastima que muitos rpgistas, principalmente os mais jovens, sejam tão esdrúxulos em comportamento para com elas. Tudo o que elas querem e precisam é respeito e tratamento igual, nada mais. Claro que você fica com um pé atras em fazer aquela piadinha de baixo calão quando uma delas esta na mesa, mas conheço rapazes que não gostam disso também...e a minha amiga Lilica alem de jogar com guerreiras reflexivas, ainda solta piadas que fazem, muito marmanjo ficar sem palavras...
    Em suma, elas são pessoas e como pessoas, vem em todos os formatos. Tive honras em jogar com elas, assim como também tive decepções, na mesma medida e proporção que tive com eles.

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  2. Que legal Sonado! Aqui, infelizmente, nos lugares que eu vou, não vejo tantas meninas. Mas sempre tem algumas.

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  3. I just wanted to say thanks for the mention and for writing such a great post!

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  4. Olá, infelizmente só vi e conheci seu blog agora, o que não enfatiza minha opinião. Tenho 29 anos, sou mulher e comecei a jogar RPG com AD&D aos 10 anos, tive uma rápida experiência com o mini GURPS mas minha paixão veio com Storyteller. Sou fã de literatura e foi um caminho bem natural, uma vez que, com o Mundo das Trevas descobri que as histórias não precisavam ser sempre épicas, mas poderiam ser dramas, romances (no sentido literário, não no, bem, romântico), violentas, pulsantes, carregadas de mistério, mas ambientadas num mundo muito próximo daquele que eu conhecia, sem ser obrigada a frear a minha criatividade por regras intrincadas que nem sempre favoreciam a melhor interpretação em detrimento de um, bem, amontoado de regras que na maioria das vezes mais freavam do que ajudavam na minha opinião.

    Uma experiência comum a jogadoras de RPG em geral é levar cantadas de alguma forma escrota. Sabe, eu vou pra mesa pra jogar, não pro Mestre me dar XP ou artefatos legais por causa do meu decote, nem pra levar cantada dos outros jogadores, muito menos pra que a minha personagem namore o personagem de outros jogadores (o que muitas vezes leva a cantadas indesejadas). Tanto que,m nos últimos tempos, tenho optado por homossexuais masculinos para evitar jogador chato que não se manca que eu quero é jogar.

    Outra experiência que já tive é o de "mundos" excessivamente masculinos. Inclusive fui obrigada a apontar o fato, depois da primeira sessão, a um grande amigo em uma mesa de Werewolf. NENHUM dos Garou realmente relevantes eram mulheres ou fêmeas lupinas. Todas as mulheres que eu tinha visto em jogo eram humanas que de nada sabiam ou Parentes, sem poder algum, nenhuma outra capacidade além de serem meras reprodutoras pros Guerreiros de Gaia. Isto é o que, se não um baita de um machismo que ele tinha dentro de si e nem se dava conta? Pois bem, apontei o fato pra ele, que se desculpou e pediu a minha ajuda para ao menos desenvolver os conceitos das personagens femininas, uma vez que ele nunca tinha jogado nem mestrado com uma relevante. E o detalhe é que eu não era a única mulher na mesa. Pelo menos, ele se emendou e compreendeu.

    Semana passada eu escrevi um conto sobre isto, do ponto de vista de duas personagens, sobre a relação dos gêneros, sexismo e afins dentro do cenário de Mago: A Ascensão. Se quiser, dá uma olhadinha aqui, ó: http://bookofmirrorsbr.blogspot.com/2012/01/conto-cartas-sobre-sexismo-e-despertar.html

    Desculpe o comentário imenso, mas sobre este assunto, eu tenho váaarias XP acumuladas ao longo destes 18 anos como jogadora de RPG.

    Beijos,
    Eva

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    1. Oi Eva,

      Bem, infelizmente temos alguns jogadores bastante infantis por aí. Minha esposa, quando começou a jogar RPG, sofreu as mesmas coisas que você descreveu, o que foi muito desagradável e fez ela ter um certo preconceito com RPG (tive que insistir bastante para ela tentar jogar de novo).

      Acho até que nem todos que fazem isso são machistas, porém com certeza são muito burros. Se querem chamar a sua atenção ou algo do tipo estão fazendo tudo errado, né?

      O que você fez com o seu narrador de Lobisomem foi ótimo. É o que eu sempre falo para as pessoas que jogam comigo. Deem sugestões, digam o que gostariam de ver na campanha, o que não gostam e essas coisas. O jogo é de todos, né?

      Li o seu texto. Muito bom! Fiquei sabendo de coisas que não fazia ideia. Confesso que não conheço muito de Munda das Trevas. Infelizmente quando eu tentei jogar eu só conhecia jogadores que gostavam de "matar, pilhar e destruir" o que não combinava nada com o jogo, nem com o sistema.

      Obrigado pela visita, e volte sempre!
      Beijos,
      Diogo

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  5. Olá Diogo,

    São comportamentos machistas, sim, ainda que não saibam. É machismo arraigado, sabe? Eles primeiro precisam reconhecer que estas são atitudes erradas, para que possam mudar. E machismo não é bom pra ninguém, nem pra mulher que tem que aturar coisas idiotas, nem pro homem, que se sente forçado a agir de formas que ele não deveria ser obrigado.

    Eu sempre tento dar toques quando vejo homens super inteligentes que não se tocam que certos atos são machistas. Às vezes, as pessoas só precisam de uns toques pra descobrir formas de mudar certos comportamentos, seja no RPG, seja fora dele.

    Valeu pela visita! Eu já tive problemas com jogadores do tipo "matar, pilhar e destruir" em tudo quanto é sistema, infelizmente, eles estão por ai. Às vezes é divertido, mas às vezes queremos outro tipo de coisa, né?

    Virei leitora do seu blog!

    Você tem Twitter?

    Beijos,
    Eva

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    1. Pô, não tenho Twitter não, ainda. Parece que a comunidade RPGista é bem ativa por lá. Talvez devesse criar um, né?

      Mas é isso mesmo, temos que dar uns toques quando podemos. As vezes as pessoas param para pensar e mudam de atitude. Infelizmente, não é sempre.

      Poxa, que bom que gostou do blog. Talvez eu não consiga contribuir muito para os jogos de Mago, mas eu vou tentar sempre colocar coisas que sirvam para qualquer jogo ou sistema. Eu tinha um blog antes só de D&D, mas cada vez mais eu conheço jogos novos e gostando de tanta coisa... Enfim.

      Seu blog é show de bola também, pena que eu não conheça ou jogue WoD. Algo que pretendo corrigir. Tenho um amigo que gosta muito do Novo WoD e falou que o sistema deu uma melhorada.

      Beijos,

      Diogo

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    2. Cria um Twitter sim, a comunidade RPGística é muito ativa por lá. Sempre trocamos ideias, temos algumas discussões, combinamos de fazer coisas juntos, é bem legal!

      Não tem problema o blog não ter coisas sobre Mago! Eu sou fã de magia em qualquer mundo o sistema. Mesmo em D&D, eu sou sempre a maga ou feiticeira do grupo xD isso quando não faço uma barda com mania de ladinagem e uns feitiçozinhos na manga... xD

      Eu particularmente não gostei muito do novo WoD, mas é questão mesmo de gosto. E estou acompanhando por aqui as novidades sobre a nova versão de D&D.

      Beijos!

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  6. Mulher gostar de RPG é realmente raro

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