quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Uma partida de 3:16 - Carnificina entre as Estrelas

No final de semana passado começou mais uma oficina do Daniel Sant'anna, lá do D+1, de Design de Jogos (focado em RPG). O tema da atual, que estou fazendo, é Ficção Científica, e na primeira aula, depois de um papo bem legal sobre o que é RPG, sua história lá fora e aqui no Brasil, rolou uma mesa de 3:16 - Carnificina entre as Estrelas para todo mundo entrar no clima e começar a pensar em jogos com essa temática. Além disso, o nosso dever de casa foi fazer um reporte de sessão baseado nessa experiência, daí eu pensei: "Porque não não falar disso lá no blog?".

Bem, antes do jogo em si, o Daniel fez um resumo da ambientação, que pelo que eu entendi (eu não li o livro) é mais ou menos assim: O cenário se passa em um futuro distante, bem distante, quando a raça humana superou uma série de desafios e se vê livre de doenças, guerras entre si, corrupção e outras coisas. Isso permitiu um avanço tecnológico em diversas áreas mas deixou a vida sem desafios e dificuldades. Muitas pessoas, por causa disso, perdem motivação para viver e acabam pagando para entrar em câmaras de suicídio. Os governos das nações, então, se unem e propõem um novo desafio, colonizar a galáxia. Acontece que, nos confins do universos diversos planetas estranhos e bizarros oferecem desafios a essa ambição. Os personagens do jogo são soldados de um tropa estrelas que é enviada através do cosmos para explorar esses planetas, resgatar outros batalhões desaparecidos, estabelecer bases e outras coisas. É um resumo bem geral, mas foi isso que eu entendi (se estiver errado, me corrijam).

Personagens: Meu personagem, Rodolfo "Sacana" Lima, era um soldado comum. Ou nem tanto, já que ele, cansado da monotonia da vida na Terra, se alistou para finalmente "viver" alguma emoção. Ele só se sentia a vontade atirando sua metralhadora e usava piadas, ironia e sarcasmo para esconder o vazio dentro de si. O resto do grupo era formado por um Sargento (nosso comandante) com fama de azarado, um Cabo (do qual não lembro muito) e dois outros soldados, um zarolho e outro (uma mulher) com fama de maluca.

A Missão: Nossa missão, passada por um tenente meio cyborg, manco, rabugento e mal-cheiroso, era a de ir até um planeta primitivo e exterminar todas as formas de vida lá e estabelecer uma base. Aparentemente outras missões tinham sido enviadas mas nenhuma retornou. Então fomo nós, e mais 50 soldados, em um transportador velho, enferrujado e fedorento, até a superfície do planeta, que parecia a terra em tempos primitivos. Aterrizamos em um local parecido com uma selva exótica, com insetos gigantes e outros bichos. O lugar cheirava forte a metano, e isso logo chamou minha atenção, já que fezes liberam esse gás. Não demorou muito para encontrarmos os habitantes locais. Após um caminhada pequena, fomos cercados por um grande grupo de dinossauros, como aqueles extintos a bilhões de anos na Terra. Alguns dos soldados foram pegos de surpresa e não duraram muito contra aquelas criaturas ferozes, mas nosso treinamento e armamento foi suficiente para acabar com eles em poucos minutos. O Sargente "Pé-Frio" decidiu que deveríamos ir até um região de planalto para estabelecer a base de operações e, assim, começamos uma longa caminhada por aquela selva mal-cheirosa. Foram horas até chegar aos pés das colinas que levavam até a região que pretendíamos chegar. A escalada não foi fácil e alguns soldados não conseguiram chegar até o topo com vida. Lá em cima, a primeira coisa que vimos foram três grandes estrutura ovais, aparentemente rochosas. Imediatamente identificamos o local como um grande ninho de uma das gigantescas criaturas alienígenas locais. Não pensei duas vezes, tínhamos que eliminar as formas de vida local, e empurrei os ovos colina abaixo, espalhando os embriões mal formados de dinossauros extra-terrestres na selva abaixo. O barulho, porém, atraiu a colônia dos pais da criatura. Eram uma espécie de Tiranossauros Gigantes, com carapaças ósseas muito resistentes. Nossas armas quase não surtiam efeito contra aqueles monstros. Pânico se instaurou sobre o pelotão, as pessoas queriam ir embora, correr, se matar, mas eu nunca tinha me sentido tão vivo como naquele momento. Eu parti com tudo que eu tinha para cima das criaturas. Então, algo nojento aconteceu, nosso Sargente "Pé-Frio" se borrou todo e chamou o resgate, que veio muito rápido, nos sugando para dentro da nave e nos retirando de combate, o momento mais emocionante da minha vida, retirado de mim por um covarde.

Impressões: Bem, o jogo é bem simples (bota simples nisso). Basicamente você tem duas habilidades, uma para ações relacionadas a combate (HC) e outra para ações fora de combate (HFC). Elas variam de 1 a 9 e para ser bem sucedido no teste, você rola 1d10 e deve tirar menos que o valor da habilidade. Há um detalhe curioso aí, quanto mais próximo do valor da sua habilidade (mais ainda menor ou igual a ela), melhor é a qualidade do seu sucesso. Fora isso, cada personagem tem Forças e Fraquezas que podem ser invocadas em certas cenas para obter sucessos automáticos ou falhas (é isso mesmo? quase não usamos). O detalhe é que essas forças e fraquezas você só define o que é na hora que as utilizar. Você cria uma narrativa que explique e justifique aquela característica e como ela ajuda (ou atrapalha) nas circunstâncias atuais. Na minha mesa não chegamos a usar isso, o tempo estava acabando e um dos jogadores usou uma habilidade dos sargentos de evacuar as tropas, uma pena. Mas a mesa do lado usou e o jogador narrou um episódio interessante da infância do personagem e como aquilo afetou ele.

Pontos Positivos: A simplicidade do jogo e a capacidade de jogá-lo com pouco preparo. Fazer personagens é super simples, e um grupo de pessoas fica pronta para jogar em menos de 20 minutos. Além disso, para os mestres, há uma série de tabeles que cria objetivos para missões, tipos de planetas, ameaças, tipo de alienígenas, atmosferas e outras coisas. Assim você pode pegar o jogo e jogá-lo sem precisar passar horas programando o que vai fazer. É claro que isso exige um certo jogo de cintura, principalmente do narrador, para transformar essas coisas em um enredo e uma aventura, mas com algumas partidas já se pega o jeito, eu acho (estou acostumado a jogar de forma meio improvisada já). O sistema de forças e fraquezas com a possibilidade de inventá-las na hora em narrativa compartilhada é bem legal e acho até de fácil adaptação a qualquer outro sistema (o que é sempre um ponto a mais).

Pontos Negativos: Essa é uma parte complicada de se falar. Os pontos negativos vão depender do que você espera do jogo e o que você quer com ele. Ao meu ver, o 3:16 é um jogo para ser jogado de vez em quando, em sessões rápidas, divertidas e descompromissadas. Ele tem um foco bem específico em um tipo de jogo e não permite muita variação, mas eu não vejo isso como um ponto negativo. Ele funciona bem para aquilo que propõe, e nada além disso. Para alguém que queira uma campanha mais complexa, com desafios diferentes, um jogo que dure anos, acho que o sistema, bastante simples, vai deixar o jogo pouco variado e talvez simples demais. No entanto, parece que há diversos rankings a serem alcançados, dando a impressão que algumas pessoas jogam campanhas mais longas nesse sistema. Não foi nosso caso, então não sei como avaliar se isso funcionaria bem, ou não. Resumindo, a simplicidade do jogo, para mim, é tanto sua vantagem como sua desvantagem, dependendo do que você quer dele.

Referências: O Jogo, como muita gente sabe, lembra muito a série "Tropas Estrelares" (Starship Troopers) e o jogo de computador "Star Craft". Inclusive essas são referencias que o Daniel citou e usou como miniaturas. Essas referencias serviram bem para todo mundo identificar o tema e como são as coisas no universo do jogo. Aliás, já vi em alguns lugares fichas e adaptações de personagens do jogo "Star Craft" para o 3:16.

Enfim, o 3:16 - Carnificina entre as Estrelas é um RPG de ficção científica com um foco bem específico, campanhas militares no espaço infestado de alienígenas bizarros e famintos. Ele tem um sistema bem simples que basicamente se resume a habilidade dentro de combate e habilidade fora de combate. Ele permite partidas rápidas, quase sem preparo, com bastante improviso, ação e diversão, mas, ao meu ver, pode se tornar repetitivo em campanhas mais longas (que até acho não ser o objetivo do jogo). Se você cute "Starcraft" e Tropas Estrelares, e gostaria de jogar um RPG com esse tema, ele é uma boa pedida. Se quiser algo mais complexo, que dê suporte a diversos estilos de histórias em um cenário futurísticos, ele pode não ser a melhor opção.

Aqui no Brasil, o jogo foi lançado pela editora Retropunk. O livro impresso saí por volta de 30 reais, o PDF por volta de 15 e o pacotes (Livro+PDF) sai R$ 40,00 certinho (o link para a loja está aqui).

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6 comentários:

  1. "Pontos Negativos: Essa é uma parte complicada de se falar. Os pontos negativos vão depender do que você espera do jogo e o que você quer com ele. Ao meu ver, o 3:16 é um jogo para ser jogado de vez em quando, em sessões rápidas, divertidas e descompromissadas".

    Realmente Diego, Carnificina é um jogo narrativo com traços de estratégia. Porém dá pra jogar muitas partidas sim, imagine uma campanha no estilo do já comentado Starcraft? A linha do produto tem anos e eles continuam criando histórias.

    Tudo depende da criatividade do grupo (o jogo também incentiva a narrativa compartilhada). Esse é o tipo de jogo que pode ser absurdamente divertido por anos, ou enfadonho (se o narrador insistir em usar a mesma fórmula de matar e sair do planeta).

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    1. Pode ser que sim. Eu não cheguei a jogar outras aventuras e não li o livro. Não sei como rola evolução do personagem e outras opções de aventuras. A existência de somente duas características, para mim, é um simplificação que funciona para jogos rápidos, mas em uma campanha de anos, eu ficaria querendo algo a mais. Não sei. Foi uma impressão baseado em uma só sessão.

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  2. Muito bom... as suas descrições sobre o jogo foram sensacionais! Eu acho que com um grupo mais intimo dá pra rolar campanha sim. E vou te falar que me diverti muito mestrando!

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    1. Pode ser que dê mesmo, mas daí ele vai ser um jogo que exige mais preparação, né? Eu só fico em dúvida se personagens tão simples, com apenas duas habilidades que resumem todos os aspectos deles vai satisfazer jogos com histórias mais variadas.

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  3. Diogo,

    Realmente é um sistema bastante ágil, e sim ele é ótimo para campanhas. Além da hierarquia militar (que você pode galgar quando "sobe de nível"), 3:16 tem uma temática implícita que só se revela em campanhas mais longas: a guerra. Não a guerra de matar e destruir, não combate, mas o que a guerra é capaz de fazer com a mente de um soldado. Por isso as mecânicas de flashback, onde o jogador pode unir suas memórias com o inferno que está passando no campo de batalha. Tanto é que a última lembrança a ser utilizada já está marcada na ficha. é "ódio de casa", quando o soldado descobre ser um peão de algo maior, que será incapaz de voltar a Terra e viver normalmente e, principalmente, que a missão de seus superiores é garantir isso.

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  4. Opa Diogo! Bacana a sessão (e a oficina)!

    Duas considerações:

    • Seu entendimento da premissa está 99% completo. A diferença é que a ideia não é colonizar o cosmos, e sim procurar ameaças pra pulverizar mesmo, bem ao estilo EUA. :D

    • O jogo serve sim pra campanhas, como disse o Aislan. Jogamos uma até o sexto nível do personagem mais alto (a cada missão, dois dos personagens sobem de nível), e tem várias regras legais pra subir patente, melhorar armas, adquirir equipamentos e medalhas. Jogávamos nas sextas à noite, horário ideal pra rolar dados sem muito compromisso, explosão de aliens regada a cerveja e amendoim! (pena que não posso mais beber e agora estamos em um jogo de DARPG nas sextas :P).

    Já escrevi um cadim sobre 3:16 lá no meu blog, se estiver interessado aqui está o link: http://biroscanerd.blogspot.com.br/search/label/316

    Abs!

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