terça-feira, 27 de novembro de 2012

Guia Básico de Criação de Aventuras - Parte III

Uma das coisas mais legais de ser um mestre de RPG é criar seus próprios mundos, personagens, vilões e aventuras, para que os personagens dos jogadores possam interagir, descobrir e conhecer. É uma coisa quase mágica e muito gratificante, quando você vê que eles estão se divertindo e curtindo aquilo que você criou. Mas uma coisa é certa, essa tarefa pode parecer intimidadora para muita gente.

Na primeira e segunda postagem desta série, falei um pouco sobre a criação de aventuras de um jeito mais flexível, dinâmico e vivo, no qual você não prepara um caminho para os jogadores seguirem, mas sim apresenta uma situação, com personagens envolvidos e faz a pergunta, tanto para eles quanto para você, "O que vocês fazem?". Basicamente, já respondemos a três das cinco perguntas fundamentais quando criamos uma aventura: "O que?", "Quem?", e "Por Que?". Chegou a hora de falarmos sobre as outras duas: "Onde?" e "Quando?".

A pergunta "Onde?" define os locais nos quais a aventura se passa, os principais locais onde a história acontece, e onde a emocionante batalha final é lutada. Esses locais tem uma influência grande na aventura, e podem fazer uma história muito mais interessante e "viva". Uma coisa é lutar contra goblins em um aposento de pedra sem nada, outra coisa é batalhar eles em um templo antigo dedicado a divindade Xothaul, o Deus Sapa, cheio de imagens bizarras de seres anfíbios sinistros, pilares em formas sinuosas, poças de um líquido pegajoso e outras coisas. As possibilidades e cenas que veem a sua mente na segunda hipótese são praticamente intermináveis se comparadas com a primeira, não é?

Quando pensamos, então, nos lugares em que a aventura se passará, temos que perguntar a nós mesmos o que faz desse local, um lugar especial? Hã alguma coisa que o faz diferente dos outros locais similares? Há alguma coisa de fantástico, mágico ou terrível lá? Essas e outras perguntas nos ajudam a pensar sobre os locais nos quais a aventura se passará. Algumas vezes, o próprio local pode ser a aventura por si só, como quando os aventureiros precisam escapar de uma masmorra sinistra e perigosa, como um labirinto.

Quando estiver planejando sua aventura, tente dar os locais uma personalidade, características interessantes e uma história única. Esses elementos vão ajudar a torna-lo mais "real" para a sua mesa. As perguntas a seguir foram criadas para ajudar você a criar locais mais interessantes e divertidos, evitando as velhas masmorras sem nenhuma história.

1. Onde a aventura acontece? Que local é esse?
2. O que há de especial nesse local? Há algo de mágico, fantástico, sobrenatural ou diferente aqui?
3. Qual é a primeira coisa que uma pessoa nota quando chega aqui?
4. Qual era o propósito original desse local?
5. Quem eram os habitantes originais?
6. Qual é o propósito atual do local?
7. Quem são seus habitantes atuais?
8. O que há ao redor do local? Há alguma influência do local em seus arredores e vice-versa?

Quando estiver respondendo essas perguntas, tente ser econômico e objetivo ao mesmo tempo. Uma frase ou duas apenas, por pergunta. Lembre-se de todos os sentidos quando estives pensando nesses lugares, como ele se parece, como são os cheiros e odores, os ruídos, as sensações, temperaturas e outras coisas. Uma boa dica é escrever uma lista de adjetivos associados a cada um dos lugares para você usar durante o jogo, quando estiver descrevendo-os aos jogadores. Outra ideia legal é apresentar imagens que podem ajudar as pessoas a imaginar os locais que seus personagens estão. A internet é um lugar muito bom para se achar imagens legais, tem toneladas de artes em vários sites (das editoras dos jogos de RPG, no DeviantArt, no google, é só procurar).

O local define diversos outros elementos da história também, como o terreno que os personagens terão que transcorrer, os perigos que eles terão que enfrentar nesses locais, que tipo de armadilhas podem ser construídas lá, os tipos de criaturas que, geralmente, podem ser encontradas, e outras coisas. Ou seja, a pergunta "Onde?" tem uma importância muito grande também.

Quanto a "Quando?", essa pergunta define o momento, a época, o exato instante em que essas coisas ocorrem. Uma aventura contra um culto sinistro nos submundos de uma cidade em uma noite qualquer é uma coisa, a mesma aventura durante o eclipse total das 3 luas, quando a barreira entre as dimensões ficam mais frágeis, é outra coisa totalmente diferente.

Quando criamos uma situação, com personagens, motivações e lugares, isso tudo pode ser alterado ou correlacionado como o memento. Uma circunstância pode alterar tudo isso, ou fazer com que tudo isso ocorra.  Por que será que o vilão decidiu botar seu plano em ação justo agora? Essa época, data, estação tem alguma importância na cultura dos personagens? O que está para acontecer e o que aconteceu recentemente? Enfim, são uma infinidade de possibilidades relacionadas ao "Quando?". Uma aventura para salvar uma donzela raptada muda de figura totalmente quando se tem um prazo também. Se ela não for salva até a lua cheia, ela será sacrificada, por exemplo.

Assim quando estiver pensando na sua aventura, considera algumas questões temporais em relação aos eventos que transcorrerão, qual a importância das datas na situação e o que aconteceu ou está para acontecer. Para facilitar, novamente, elaborei uma listinha básica para ser utilizada quando estiver pensando nesse aspecto da aventura.

1. Quando está ocorrendo os eventos?
2. Qual estação do ano? Faz frio, calor, chove, neva?
3. Esta data tem alguma importância significativa para alguém na história?
4. O que aconteceu até ali que influenciou os eventos atuais?
5. O que está para acontecer no futuro próximo?

É sempre interessante complicar um pouco mais as coisas com algo que está para acontecer e que pode alterar completamente a vida das pessoas e dos personagens. Um prazo para realizar a missão pode funcionar como um impulso que mantém a aventura sempre em movimento e aumenta a tensão na mesa. Tente sempre pensar em maneiras interessantes de introduzir elementos temporais nas suas aventuras, elas se tornam mais críveis e dinâmicas assim.

Enfim, essa postagem conclui a série de Guia Básico de Criação de Aventuras. Na primeira parte tratamos do aspecto "O que?", que é, justamente, a situação que está ocorrendo, o problema a ser resolvido; e na segunda parte vimos outros elementos importantes em toda a aventura, o "Quem?" e o "Por Que?", que definem os personagens e as motivações desses.

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Um comentário:

  1. Aeee Diogo! Parabéns pela série Criação de Aventuras. Achei bacana demais!

    Já está chegando na hora de você compilar seu anuário e liberar em PDF, o que acha? Seria um mega livro útil!

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