quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Crônicas da Era Hiboriana - A Tumba de Tuhan - Parte I



Era noite quando Almeric, um Bretunio mercenário que viera à Aquilônia em busca de ouro, Hashin K'dhar, Um Vendhiano estudioso em busca de relíquias e ruínas antigas, e  Sveinsonir, um Asgardiano que jurou proteger Hashin depois que esse o ajudou a fugir de seus inimigos, sentavam a mesa de uma estalagem na cidade de Tanasul, a beira do Rio Shirki. O silêncio das ruas era quebrado com os bravados dos homens e risadas das meretrizes que tentavam agradar sua clientela.

Os três andavam juntos há alguns meses, desde antes da tomada do trono de Aquilônia pelo cimério Conan. Com o passar do tempo e o fim das revoltas, os trabalhos de mercenários e seguranças foi diminuindo, e agora eles estavam em seus últimos leões de ouro. Sobre a mesa, cerveja e vinho de Bretúnia, acompanhado de carne de javali assada serviam para saciar a fome dos dois guerreiros e a sede de Hashin. Eles estavam preocupados e agitados, tentando pensar em uma maneira de conseguir mais ouro.

Sveinsonir, que acreditando que o Vendhiano tinha a resposta para a maioria dos problemas que não envolvessem a sua gigantesca marreta de guerra, perguntou ao amigo se ele não sabia de nenhum tesouro ou outra coisa valiosa que pudesse estar descrita em um de seus livros antigos, que ele sempre carregava com si.

- Hashin, não há nada nesses volumes velhos e apodrecidos que possam nos levar a uma fortuna escondida sobre pedras? Não é possível que não tenha nada de útil aí! - Disse o gigante loiro do norte.

- Alcame-se Svein. Algo surgirá, eu li nas estrelas. Meus livros não trazem a solução de todos os nossos problemas, mas podem nos guiar quando estivermos perdidos, as vezes.

Nesse momento, então, um ancião se aproxima, com as costas curvadas e os olhos opacos, quase brancos. Um sorriso sinistro e desdentado formou-se no seu rosto, quando puxou uma cadeira para sentar-se à mesa deles.

- Ah, vejo que vocês estão atrás de ouro... - disse o velho com uma voz rouca - Talvez eu possa ajudá-los, se vocês me ajudarem, também, é claro.

- Fale logo, ou transformo sua cabeça em patê com a minha marreta, velho - falou o Asgardiano, sempre sem paciência para as conversas curvilíneas dos homens civilizados.

- Diga-nos como você pode nos ajudar, e veremos o que podemos fazer, senhor... - Almeric tentava fazer com que o ancião se apresentasse.

O velho, então, puxa um pergaminho velho e gasto de uma sacola dentro de suas vestes encardidas e o balança na frente dos aventureiros. - Eu tenho um mapa. Um mapa que pode levá-los a tesouros perdidos. Gemas, cálices, e muito ouro! E só quero cem leões de Aquilônia por ele, afinal, não tenho mais idade para ir atrás de tesouros eu mesmo.

- Eu quero é 50 moedas de ouro para não matar você aqui mesmo e pegar o mapa para mim - Sveinsonir respondeu, abruptamente.

- Não é assim que lidamos com quem nos oferece uma oportunidade, irmão de Asgard, sente-se, e beba mais - Hashin disse.

O gigante do norte se sentou, mas como uma fera que era, mantinha sempre sua atenção. Na mesa ao lado deles, percebeu os olhares furtivos de quatro homens estranhos, que pareciam prestar atenção na conversa que estavam tendo. Eles portavam armas, espadas, machados e havia uma lança sobre a mesa.

- Pois bem, deixe-me examinar esse mapa, senhor. Temos que ter certeza de que é verdadeiro antes de comprá-lo, não é? - Continuou o erudito do grupo.

O velho, um pouco receoso, abre o mapa sobre a mesa, mas mantém suas mãos sobre ele - Er, sim, claro, podem observar. É um mapa autêntico, bem antigo, com escrituras em linguagens de muito antes de Aquilônia ter sido fundada - E de fato era mesmo. Hashin, com o conhecimento que tinha de artefatos e peças antigas, percebeu que não se tratava de uma cópia ou um mapa falso. As escrituras pareciam usar o idioma do antigo Império de Acheron, e constelações estavam desenhadas no mapa também. Tudo parecia indicar que se tratava de um verdadeiro mapa antigo.

- Não tenho certeza de que esse mapa é realmente verdadeiro - disse o Vendhiano, dissimuladamente - Como podemos saber que ele não é mais um cópia, e quando chegarmos lá não haverá mais tesouro nenhum para acharmos?

- Não, não. Essa é a única cópia que existe desse mapa, eu juro por Mitra. Eu sei bem disso, eu ouvi dos lábios do feiticeiro do qual roub... quer dizer, consegui esse mapa. Ele é único, único, como os tesouros que lá estarão!

Nesse momento, um dos homens da outra mesa, que pareciam estar escutando a conversa deles se levanta e dirige-se à porta dos fundos da estalagem. Sveinsonir percebe a movimentação e se levanta - Bem, amigo Hashin. Sei que você é mais habilitado para resolver essas questões do que eu. Aguardarei lá fora, por vocês - E ele se dirige a porta principal do estabelecimento, sem antes cuspir no chão. Isso, na verdade, era um sinal usado pelos dois, que significava que algo estava errado e que deviam se manter atentos.

- Pois bem, ancião - falava Hashin - por que não terminamos de negociar isso longe daqui? O barulho e a multidão atrapalham muito nossa conversa e poderemos fazer isso mais calmamente.

- De jeito nenhum, caro amigo. Como saberei que não vão rasgar meu pescoço com uma fava e me jogar em uma ruela, depois que pegarem o meu mapa. Ou negociamos aqui, ou venderei para outros mais espertos do que vocês.

- Está bem, está bem. Noventa leões de Aquilônia é a nossa oferta. O mapa está muito velho e deteriorado, escrito em uma linguagem que nenhum homem de hoje conseguiria ler. Será muito improvável que conseguimos encontrar algo, por isso quero-o apenas por curiosidade, para minha coleção.

Um pouco hesitante, o velho ficou considerando a oferta. Antes que pudesse responder, Sveinsonir veio ansioso da porta para apressar-lhes - Vamos logo com isso, algo não cheira bem nesse lugar. Dê-nos logo esse mata ou esmagarei sua cabeça, seu porco velho - e levantou sua marreta de guerra.

- Para com isso, Svein - Hashin segurou o companheiro - Não queremos chamar mais atenção do que chamamos. Então, senhor aceita as 90 moedas?

- Sim, sim. Claro - O ancião recolou as moedas sobre a mesa e as jogou em uma sacola escondida entre os trapos que vestia, para então sair dali o mais rápido que sua perna aleijada o permitia.

O grupo se levantou e deixou a quantia que era necessária para pagar as bebidas e comidas sobre a mesa, e se dirigiu a porta. Ao mesmo tempo, os homens que os observavam fizeram o mesmo, indo para a porta dos fundos

O grupo decidiu partir rapidamente para o estábulo onde deixaram os cavalos, a fim de despistar os homens que possivelmente os seguiriam. Andaram por um bom tempo por uma rua principal, feita com pedras. A escuridão era quebrada pelo brilho longínquo das estrelas e uma ocasional tocha presa a um poste. Quanto mais se distanciavam da estalagem, mais silenciosas as ruas ficavam.

Entrando em uma das transversais, enlameada devido a chuva do dia anterior, para chegarem até o estábulo o grupo prosseguiu apressadamente. No entanto, quando passavam por uma rua, alguns metros antes do lugar onde seus cavalos os aguardavam, ouviram o baralho de espadas sendo desembainhadas, e o passo de um grupo de homens. Os três, então, sacaram suas armas, Sveisonir com sua enorme marreta de duas mãos, Hashin com sua besta pronta para atirar uma seta no olho e quem aparecesse, e Almeric aprontou seu escudo e espada.

- Larguem suas armas, cães sarnentos - Disse uma voz rasgada, vindo do beco escuro - Entreguem o mapa e deixaremos que fujam como covardes, mas vivos - O grupo de quatro homens que os observaram no bar se aproximava, com armas em punho e um sorriso desdenhoso.

- Entregarei suas tripas para a concubina da sua mãe seu porco - Gritou o Asgardiano, brandindo sua arma e partindo em direção ao grupo. Ao seu lado foi Almeric, medindo seus passos e pronto para acertar um golpe certeiro em seu inimigo.

Gritos de fúria e gemidos de dor se misturavam na madrugada. O Asgardiano, como de costume, tinha bebido mais que o razoável, e seus golpes de marreta não estavam tão precisos como poderiam ser. Almeric, no entanto, mantinha a concentração e feriu gravemente o homem que parecia ser o líder do grupo. Uma cicatriz marcava sua face agora, e com um ódio gigantesco partiu para cima do Bretuniano, brandindo sua espada como um cão enraivecido.

- Você pagará por isso, seu verme! - E, com um golpe perfurante, encravou sua espada no ombro esquerdo do Bretuniano, que jorrou o líquido vermelho da vida como um chafariz.

Ao mesmo tempo, um dos homens veio para cima de Hashin, mas acabou escorregando na lama, caindo de cara no chão. O Vendhiano aproveitou e perfurou seu pescoço com uma adaga, matando-o imediatamente. À frente, depois de ser atingido por outro corte da espada de Almeric, o líder dos bandidos tem seu tórax esmagado pela marreta de Sveinsonir e cai de joelhos cuspindo sangue pela boca. Os dois outros homens, vendo que lutavam com guerreiros hábeis, largaram suas armas e correram por suas vidas. Os gritos de batalha sessam e o silêncio é quebrado, agora, apenas pelo som da respiração rápida dos três companheiros, e os passos dos dois fugitivos.

Almeric cortou um pedaço das vestes de um dos morto no chão e improvisou uma bandagem para o seu ferimento. Enquanto isso, Sveinsonir e Hashin verificaram os bolsos e pertences dos dois homens caídos. Aparentemente eles não portavam nada que indicasse terem sido enviados por alguém. Talvez se tratassem de outro grupo a procura de ouro, como aqueles que os mataram. De qualquer forma, agora tinham algumas armas de reserva, caso precisassem, como geralmente acontece naquele mundo caótico.

Após limparem suas armas, voltaram a caminhar em direção do estábulo. Na porta, o cocheiro os esperava com uma lanterna acesa e olhos arregalados de pavor. Ele ouvira os gritos de guerra e os gemidos de dor, e agora via os três com sangue em suas vestes e armas.

- Po-por favor, senhores, não me machuquem, eu não vi nada! Po-po-podem levar quaisquer ca-cavalos que quiserem! Nã-não tenho ouro, poupem minha vida! - disse o pequeno cocheiro de cabelos grisalhos e bigodes largos, tremendo enquanto falava.

- Não queremos nada que não sejam nossos cavalos, e uma boa noite de sono. Dormiremos aqui essa noite, mas não lhe queremos mal - Hashin falou com o homem, tentando acalma-lo. E este apenas secudiu a cabeça afirmativamente e se recolheu em seu canto, encolhido e olhando-os de longe, como uma presa encurralada.

Durante a noite, os três revezaram em vigília. Enquanto dois dormiam algumas hora, um terceiro ficava atento para a possível volta dos bandidos que fugiram. As horas se passaram rapidamente, com um ou outro indivíduo chegando durante a madrugada para deixar seu cavalo com o cocheiro, que os recebia nervosamente. A manhã veio com um ar gelado vindo do norte. Era o fim do verão e o outono se aproximava.

Os três levantaram-se ante do nascer do sol, a fim de não perder tempo e encontrar o local da tumba rapidamente. Pegaram seus cavalos e logo saíram pelas ruelas da cidade. Não demorou muito para estarem longe do estábulo. Quando, sem querer olharam para trás, viram três soldados de Tanasul conversando com o cocheiro, que apontava para eles. Imediatamente os homens pegavam cavalos e galopavam na direção do grupo.

Com certeza eles não vinham para agradecer por terem se livrado de dois bandidos, mas os três aventureiros não quiseram esperar para ver do que se tratava e açoitaram seus cavalos para que corressem o máximo que pudessem. Pelas ruas pessoas se jogavam da frente deles e barracas de pequenos comerciantes eram destruídas tanto pelos perseguidos, quanto pelos perseguidores. Gritos ecoavam pelas ruas, ordenando para que eles parassem ou que alguém os parasse, mas, obviamente, ninguém tentou se jogar na frente deles, ainda mais com um gigante asgardiano brandindo uma marreta de duas mãos. Mas, após alguns minutos de galopadas, eles cruzavam o portão norte da cidade, debaixo de um chuva de setas de bestas, mas sem serem pegos. Tinham escapado, mas iriam precisar de algumas boas semanas até que esquecessem deu seus rostos naquela comunidade. Pelo menos, tinham um mapa e a possibilidade de ficarem ricos, e isso era mais do que tinham quando entraram em Tanasul.

Esse conto foi escrito baseado em uma aventura jogada com o RPG Barbarians of Lemuria, ambientado na Era Hiboriana. Para ler a segunda parte deste conto, vá na seção de Crônicas do blog.

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5 comentários:

  1. tem muitos erros de português, faltou uma boa revisão, mas o conto é foda. E o principal, o combate próximo ao estábulo, eu imaginei já com as regras do Bruxos e Bárbaros, o cara escorrega e cai no chão (Sorte baixa+falha critica) o erudito o mata instantaneamente com a adaga (golpe de misericórdia mortal) entre outros fatores. Achei muito Foda!

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    1. Tem razão, Falcão. Dei uma consertada. Espero que esteja melhor.

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  2. Diogo, parabéns pelo blog, os posts são muito bons.

    Uma coisa que eu sempre gostei ao ler relatos de sessão são os comentários finais que o narrador faz. Acho interessante, pois dá pra ter uma ideia do que aconteceu, os pontos fortes e fracos do sistema, algumas situações que surgiram e obrigaram o mestre a improvisar. Essas coisas dão ideias a outros mestres, que mesmo jogando sistemas diferentes, podem tirar boas ideias disso. Fica a sugestão.

    Os contos são legais, mas não dá pra ver o jogo acontecendo, no sentido de dicas, explicações sobre o sistema, erros e acertos do mestre.

    Achei bem legal o Bárbaros de Lemúria e uma explicação sobre o uso do sistema e da ambientação como comentário final no relato de sessão sempre enseja boas ideias a quem lê e joga com ambientações parecidas.

    Um abraço e segue firme com as boas postagens!

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    1. Boa ideia Thiago. Eu quis fazer em forma de conto porque acho que o jogo se presta a isso muito bem. Ele é construído pensando em histórias desse tipo. Mas vou ver se faço uma postagem sobre como foi o JOGO em si.

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  3. E na sua opiniao, que já teve a oportunidade de jogar o sistema de Barbaros da lemúria e na ambientaçao da era hiboriana, o jogo se saiu bem? Pergunto se ele funciona bem para esse cenário ou se um retroclone/Old-School se sairia melhor?

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