quarta-feira, 6 de abril de 2016

"Oh, Meu Deus! Um Transgênero no RPG!" - Sim, e daí?


Parece que as redes sociais (nas comunidades de RPG) entraram em euforia, pânico, cataclisma, caos ou sei lá o que ontem. Tudo por causa de um NPC quase sem importância em um jogo de computador baseado em RPG de mesa ser Transgênero. Ao que parece, uma porção de gente está revoltadíssima por terem "invadido" o reduto másculo, hétero, viril, puro, sacrossanto, ilibado dos seus jogos de fantasia com a temida, terrível, ditadorial "idelogia de gênero".

Fala sério, né? Esse pessoal não tem mais o que fazer não? Tanta coisa que eles podem fazer na vida e eles vão reclamar da aparição de um mísero personagem, por alguns segundos, em um jogo de fantasia, que difere do ideal de masculinidade deles? Eu nem queria falar desse assunto. Acho que já foi dito muito e até me sinto chovendo no molhado, mas como um amigo insistiu para que eu abordasse isso aqui no blog, vamos lá.

Por que eu acho isso uma tremenda baboseira? Primeiramente porque o RPG, desde o seu primórdio, já apresenta transgêneros! Vocês se esqueceram dos itens mágicos, magias e criaturas que mudam de forma, de sexo e tudo mais? Pois é. Sempre esteve lá. Não que eu esteja comparando transgêneros a montros, itens mágicos e coisas do tipo. Só estou dando exemplos de coisas explícitas que aparecem nas regras do jogo desde a década de 70. Da mesma forma como essas pessoas sempre existiram no nosso mundo, elas sempre existirão no mundo de jogo, nos mundos de fantasia. Isso não é invenção desse ano não. Isso sempre existiu na história da humanidade. Não é de se espantar que isso vá existir nos jogos de fantasia que são, invariavelmente, derivados da nossa realidade. Se pararmos para pensar um pouco, estranho é não vermos mais aparições de personagens assim nos nossos jogos. Aliás, não apenas como pequenos personagens que aparecem e rapidinho somem, mas como NPCs com alguma importância e se tornem recorrentes.

"Ah, mas assim vai ficar forçado, vai ficar impondo a Ideologia de Gênero no meu jogo!" PAPO FURADO! Não seria nada forçado. Isso é algo que existe e sempre existiu. O mundo é cheio de pessoas diferentes e variadas. Forçado é aquela campanha em que todo mundo é igualzinho, o Rei é sempre barbudo e nobre, o vilão é sempre aquele feiticeiro narigudo e com uma serpente de estimação. Forçado é restringirmos o mundo fictício coletivo a uma visão restrita do que é "certo ou errado" de acordo com nossas concepções limitadas.

Até porque, se vocês não entenderam ainda, jogos de fantasia na tradição do jogo de fantasia original, tem como um de seus principais temas a diversidade e a convivência de pessoas diferentes para um bem comum. São personagens de diversas raças com costumes, aparência, práticas, religiões e hábitos distintos, e até mesmo antagônicos, que se unem para realizar algo em benefício mútuo ou até em benefício de outrem. Isso não parece familiar não? Tolerância, convivência, colocando as diferenças de lado e trabalhando em conjunto. Não importa o que o outro é, importa o que o outro faz para o grupo, para a sociedade. Não é difícil de entender, é?

Cara, sinceramente, eu nem sei mais o que dizer. Acho isso uma questão tão boba e que deveria ser tão natural. Pessoas são diferentes uma das outras e isso é ótimo, pois isso permite que cada um seja feliz da maneira que quiser. Isto não afeta em nada a minha felicidade, assim como tenho certeza que não afeta em nada a felicidade dos outros. Se o seu bem estar depende de como a outra pessoa se satisfaz, você tem que repensar muito sobre como você deve buscar a sua satisfação pessoal. Algo, sem sombra de dúvida, falta na sua vida pessoal para você necessitar que os outros se moldem às suas concepções. Conselho de amigo que quer te ver bem, pare e reflita um pouco.

No final, isso tudo só me fez pensar que eu tenho que introduzir mais personagens diferentes em meus jogos, sair da mesmice de sempre. Sejam personagens de sexos diferentes, transgêneros, orientação sexual variada e essas coisas. Essas coisas acontecem e servem par aa gente refletir e aprender que tem muito o que melhorar em nossos jogos. Bela lição.

P.S.: Aliás, pequena curiosidade. Um dos maiores designers de dungeons que o Dungeons & Dragons já teve é um transgênero. Paul Jaquays é, agora, Jannell Jaquays e o trabalho dela é fantástico. Eu descobri isso agora, mas tudo bem. Aprendi muito com ela sobre criação de masmorras e muito do que eu publico aqui sobre o assunto é influência do trabalho dela.

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