segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Suspendendo a Imersão


Quando seus jogadores estão sentados nas pontas das cadeiras, se imaginando na pele de seus personagens, suando frio com a descrição da aventura, eles estão imersos no jogo. Muitos falam na imersão como o ápice da diversão, o máximo do teatro da mente, onde todos vivenciam aquela realidade construída em conjunto de forma completa.

Não é fácil chegar neste clima nem mantê-lo por muito tempo, mas será há momentos em que seja desejável o contrário: suspender a imersão?


Entre cenas

Como é impossível manter a imersão rolando 100% do tempo, tente administrar isso a favor da narrativa. Sempre que achar que uma cena ou um arco de ação importante dos personagens se fechou, antes de outro importante começar, faça uma pausa. Permita aos jogadores discutirem, em off se preciso, estratégias, demais questões a resolver, ou fazer acertos em ficha de forma a não trazerem isso à tona durante o jogo e suspender a imersão. Aproveite também para irem ao banheiro, pedirem a pizza, etc. Só não se alongue muito para não ter que construir a concentração de todos inteira novamente.

Explicação de regras

Quando houver a necessidade de explicar ao grupo um set de regras especiais, ou que ainda não conheçam, para determinada cena, não faça isso durante as rolagens ou depois da cena começar a correr. Ainda que seja provável que dúvidas apareçam, explique as mecânicas rapidamente, antes de tudo começar e role um exemplo antes. Se todos ficarem atentos, você não vai precisar depois ficar suspendendo a imersão a todo momento durante a narrativa para explicar o funcionamento de nada.

Cinematics

Sabe aquele momento em que você narra uma sequência, em que os jogadores não participam nem tomam decisões? É como nas cinematics do vídeo game: ou aperta ESC e corta logo para o jogo ou se concentra e assiste até o final. Ainda que muitos curtam, quem corta logo para o jogo o faz porque quer experimentar logo a imersão completa, quer agir, participar, influenciar o destino. Durante muito tempo abominei esse tipo de expediente, por buscar a imersão a todo custo, mas hoje vejo que, se bem utilizado, com cuidado e pontualmente, pode servir de bom prelúdio, ambientação ou fechamento de uma cena importante, ajudando na construção de uma imersão futura ou na conclusão de alguma história.

A tal sequência não precisa nem necessariamente ser narrada por você: pode ser delegada a um ou mais jogadores, de forma a estimular a co-criação, caso haja esse espaço.

Recentemente, fui jogador em uma aventura de Mago: a Ascenção, transmitida por stream no canal Perdidos no Play. A aventura estava em seu climax, em sua última sessão, numa cena meio Indiana Jones, cheia de ação, em que meu personagem teve uma única chance de pular da asa de um avião para um rombo num dirigível e falhou, despencando. Consegui com muita sorte realizar uma magia e fazer um skydiving em segurança até pousar, evitando a morte certa. Meu personagem estava a salvo, ainda que fora da conclusão da missão.


Eu estava tão imerso que, em minha última cena, já em segurança no solo e isolado dos demais, eu disse que meu mago iria atrás dos vestígios do Zeppelin, que estava em queda livre, terminando assim minha participação. Eu estava tão compenetrado, pensando no que faria, que não me dei conta de que naquele momento eu poderia ter narrado, ainda que como jogador, uma boa "cinematic", contando como meu personagem finalmente retiraria sua máscara de gás, que nunca havia retirado em toda história, enquanto olhava o zeppelin se espatifar, revelando aos demais jogadores (e à audiência da stream), o seu grande segredo: era na verdade robô desgarrado, criado pela tecnocracia - os vilões jogo. Não fiz e o segredo continuou segredo, em vez de dar um desfecho mais significativo pra sua história. Na verdade, esta foi a lição a respeito de imersão que me levou a escrever este artigo.

Vitória

Quando houver uma boa e suada vitória do grupo, suspenda um pouco a imersão e deixe que comemorem, comentem e tirem uma onda com a conquista. Não tire este momento deles, mesmo que você tenha algo no bolso para surpreendê-los ainda na sequência. Esse contraste também pode ser poderoso para trazer novamente a imersão à mesa.

E você? Já teve alguma experiência legal de suspensão de imersão? Costuma usar algum destes recursos ou tem novos casos legais para compartilhar? Vamos trocar uma idéia!

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