Quase todo mundo já ouviu falar sobre RPGs, Roleplaying Games, mas a grande maioria não faz nem ideia do que eles sejam. Algumas pessoas acham que é um jogo muito complicado, totalmente diferente do que qualquer coisa que já tenham jogado, e que só Nerds, CDFs e malucos conseguem entender e gostar. Mas como quase todos as conclusões tomadas sem experiência, essas também estão totalmente erradas. RPG é um jogo bastante simples, muito parecido com outros jogos e atividades que todas as pessoas já participaram.
Costumo dizer que um jogo de RPG é uma mistura de Teatro, com Polícia e Ladrão, Detetive, Jogo da Vida, War, Imagem e Ação e a antiga arte de contar histórias. Nele você geralmente assume o controle de um personagem (como em uma peça de teatro) que é o herói de uma históra, que deve impedir que os vilões consigam o que queriam (como no Polícia e Ladrão). Durante o jogo, você vai desenvolvendo a vida e caracterização do seu personagem, e isso ajuda a contar a história (como no Jogo da Vida e na arte de contar histórias). Há situações em que coisas podem não dar certo para os personagens na história, e um combate aconteça (uma briga, uma duelo de espadas, uma emboscada na trilha que os heróis estavam seguindo), nessa situação o jogo fica similar aos jogos de tabuleiro como, por exemplo, o War. Há regras que definem o que você pode fazer (embora elas sejam bem flexíveis, e permitam você fazer qualquer coisa que você imagine um personagem de um filme de ação ou de fantasia consiga fazer), e como resolver as consequências das ações que você tomar. Além disso, há situações que não podem ser resolvidas simplesmente pelas regras e manobras de combate, mas com o raciocínio e idéias criativas. Podem ser propostos enigmas e desafios como obstáculos na história (como as charadas no livro "O Hobbit", como as bombas que precisam ser desarmadas antes de explodirem nos filmes da ação) que os jogadores terão que resolver de forma inteligente e criativa. Isso tudo, combinado com a interação entre todas as pessoas que estão jogando, faz nascer uma história totalmente nova e muito divertida de se participar.
Além disso, os jogos de RPG são parecidos com o processo de criação de histórias. Uma pessoa, que assume o papel de Narrador (chamado de nomes diferentes dependendo do jogo), funciona como o diretor, árbitro e elenco de apoio das histórias. Ele, com ajuda dos outros jogadores, estabelece a base da história que será contada. Serão os personagens nobres heróis de povos e culturas diferentes que puseram as diferenças de lado para lutar contra um mal que ameaça a todos eles num mundo de fantasia medieval? Ou então mercenários espaciais que botam a serviço tanto suas pistolas quanto naves ao preço mais alto e se veem envolvidos numa teia de intrigas e conspirações que agora só eles podem resolver? Ou ainda, pessoas comuns que descobrem que o mundo que elas conhecem não é bem o que parece e que criaturas sobrenaturais se escondem e controlam o mundo das sombras? Enfim, as possibilidades de histórias, enredos e personagens é infinita, assim como são os filmes, quadrinhos, séries de TV e livros que contam histórias tão diversas e fantásticas quantas as dos RPGs.
Depois de escolhida a premissa da história a ser contada (e jogada), os outros jogadores, que não o narrador, criam os protagonistas. Nessa hora, todos os jogadores se ajudam e dão idéias uns aos outros sobre como são os personagens, o que eles fazem, de onde vieram, porque decidiram fazer o que fazem, pontos fortes, pontos fracos, personalidade, aparência, enfim, tudo o que eles acharem interessante criar sobre os protagonistas das histórias. Então, o narrador, usando toda essa informação criada em conjunto e suas próprias idéias, cria uma situação que dá início a história que será criada no jogo. Desde a clássica história dos aventureiros sentados em uma mesa da taverna de uma pequena vila quando um plebeu entra o recinto de repente, clamando por ajuda, pois um dragão vem voando do norte, até a história de como um simples serviço de entrega de peças de automóveis se torna uma corrida contra o tempo para salvar a própria pele, porque o que mandaram você entregar não era bem um carburador.
A partir daí, o jogador que age como o mestre de cerimônias, descreve onde os protagonistas estão (lugar, horário, ambiente), o que está acontecendo, o que eles estão vendo e o que os outros personagens (que não os dos jogadores) estão fazendo. Os jogadores, então, descrevem o que seus personagens fazem, reagindo ao que o narrador apresentou. Eles podem querer fazer qualquer coisa (desde que no limite da razoabilidade da história, o que, dependendo do caso, podem ser coisas bem fantásticas), e o narrador descreve as consequências das ações propostas, e as reações dos outros indivíduos na cena. E assim acontece durante todo o jogo, o narrador e os jogadores revezando, reagindo a cada proposta e situação criadas na história, durante o jogo. Assim, ninguém sabe ao certo o que vai acontecer, mesmo uma das pessoas que criou a base da história, porque dependendo do que os outros jogadores decidirem fazer, o rumo dos acontecimentos pode mudar bastante. O que aliás, é muito mais interessante do que se a história não pudesse ser alterada, não é?
Mas como o narrador decide as consequências das ações dos personagens? Bem, na maioria das vezes, a decisão é bem fácil. Se alguém decide andar até a porta de onde o barulho esquisito de grunhidos está vindo, ela simplesmente chega até lá (a não ser, é claro que tenha uma armadilha no caminho ou outro obstáculo). Outras vezes, há uma chance de que o personagem não consiga realizar o que ele está tentando. Por exemplo, se ele estiver tentando saltar para o outro lado de uma grande fissura em uma caverna, há a possibilidade de ele não conseguir e cair no fundo da fissura (provavelmente se ferindo), de ele conseguir e chegar ao outro lado sem problema, e outras dentro desses dois extremos (ele quase conseguir e ficar pendurado na beira da fissura. Para resolver essas situações existem as regras do jogo (como existem regras em qualquer outros jogos, como em War, para saber se você consegue ou não invadir o território inimigo). Nos RPGs, na maioria das vezes, as situações são decididas com o rolar de dados (que podem ter 4, 6, 8, 10, 12, 20 e até 100 lados), e são influenciados pelos pontos fortes e fracos que foram definidos na criação do personagem (alguns personagens são mais atléticos do que outros, outros são mais inteligentes, outros mais fortes). E é assim que se decide as consequências das ações nas histórias, e essas consequências criam novas situações a serem resolvidas na história, até que ela chega ao fim, quando os protagonistas alcançam seus objetivos, vencendo todas as dificuldades, agindo em conjunto, ou falham tentando.
E aí, acaba o RPG? Pode ser que sim, pode ser que não. Essa é outra coisa legal das histórias criadas com esses jogos (fora o fato delas serem interativas, criadas em conjunto e estimularem a criatividade). A história não precisa terminar ali, ela pode continuar. Depois dos heróis salvarem a galáxia dos terríveis alienígenas que ameaçavam escravizar todos os planetas conhecidos, pode ser que eles descubram uma nova ameaça e tenham que retornar de suas férias para enfrentar o grupo de separatistas que está criando intrigas e conflitos entre as diversas colônias. Ou seja, se você as vezes sente saudades das histórias de seus personagens favoritos de filmes, quadrinhos e livros, nos RPGs você não precisa, eles podem participar de novas histórias, explorar novos locais e deter novos vilões, basta você querer.
Mas como se ganha uma partida de RPG? Muito simples, se divertindo. RPG não é um jogo competitivo, é colaborativo. Mesmo o narrador, que cria a premissa da história, desafios, interpreta os oponentes, vilões e outros personagens, não faz isso para impedir que os heróis sejam bem sucedidos, mas sim para tornar a vitória dos mesmo mais doce, e a história mais memorável. O objetivo do jogo é contar uma boa história e se divertir fazendo isso.
Mas como se ganha uma partida de RPG? Muito simples, se divertindo. RPG não é um jogo competitivo, é colaborativo. Mesmo o narrador, que cria a premissa da história, desafios, interpreta os oponentes, vilões e outros personagens, não faz isso para impedir que os heróis sejam bem sucedidos, mas sim para tornar a vitória dos mesmo mais doce, e a história mais memorável. O objetivo do jogo é contar uma boa história e se divertir fazendo isso.
Concluíndo, RPGs não são nenhum bicho de sete cabeças. Na verdade eles são um tipo de jogo que é bastante similar a vários que as pessoas conhecem melhor. A prática de interpretar papeis é mais comum do que a maioria percebe, fazemos isso o tempo todo no dia a dia. Assumimos papeis diferentes em lugares diferentes, as vezes nos vemos pensando no que faríamos se estivéssemos no lugar dos personagens que gostamos. Os RPGs apenas pegam essa prática e estruturam mediante regras (para não haver aquelas discussões bobas de "eu acertei você", "não, você errou") para que todo mundo possa ter a experiência de criar uma histórias única, interativa, de forma coletiva e social, estimulando o raciocínio, criatividade, e o trabalho em equipe, tudo isso no papel de personagens principais, heróis, capazes de mudar o destino do mundo se for preciso. Se pararmos para pensar, são poucas atividades que sejam tão interessantes e saudáveis como jogar esses jogos.
Espero que tenham gostado, e aprendido um pouco com isso. Quem morar no Rio de Janeiro e quiser saber mais sobre RPGs e quem sabe até jogar uma sessão (ou sessões), pode entrar em contato comigo aqui pelo blog ou pelo meu e-mail. Assim, quem sabe, ganhamos Pontos de Experiência!
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