quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O Valor do RPG

Eu não queria escrever sobre isso, mas o assunto está consumindo a minha paz. Preferiria continuar a produzir meus livros, minhas ilustrações, mas devido a alguns acontecimentos recentes e informações obtidas, tenho que escrever algo sobre o assunto.

Primeiramente, uma simples pergunta: Quem produz (escreve, ilustra, revisa, traduz) material de RPG deveria poder viver disso? Digo, se ele tivesse trabalho para se debruçar sobre isso 8 horas por dia, 20 dias por mês, ele deveria ter uma vida digna com o que recebesse pelo seu trabalho?

Se sua resposta for sim, vamos continuar. Se for não, então você é simplesmente desprezível. Vá embora e nunca mais volte para este blog.

Bem, assumindo que estas pessoas deveria conseguir viver disso, elas devem ser pagas pelo seu serviço e dedicação. Isto tem um custo, que alguém tem que pagar. Ou seja, a editora ou o dono do projeto tem que remunerar essas pessoas. E isso vai refletir no preço do livro, invariavelmente.

Assim, o preço de um livro deve ser tal que possa remunerar apropriadamente as pessoas que trabalharam dele. Obviamente elas não vão viver o resto da vida de um livro, mas ele deve ser capaz de remunerá-las minimamente pelo trabalho e dedicação que puseram sobre ele.

E quantas pessoas trabalham em um livro de RPG? Eu não tenho uma editora grande, aliás, eu tenho uma editora micro e que publica só as minhas coisas, mas pelo que tenho visto, muitas pessoas. Primeiro tem o escritor, às vezes, mais do que um. Eles trabalham um bom tempo, talvez mais tempo do que qualquer outra pessoa no material, já que envolve não somente escrita do livro, mas no caso de RPG os testes do sistema, aventura ou suplemento, reescrita e todo o tempo que o cara passa bolando e pensando sobre tudo isso. Quanto vale o trabalho destes caras? O negócio é que geralmente eles não recebem adiantamento, só um percentual sobre futuras vendas do mesmo, e às vezes, só sobre o que vender depois que pagar os outros “custos”. Supondo que ele devesse ganhar 10 centavos por palavra (que sejamos honestos, é bem pouco - eu vou pagar 12 centavos de dólar por palavra para um colaborador no meu próximo projeto). Em um livro de 20.000 palavras, algo que possivelmente renda um livreto de 64 páginas, dá uns 2 mil reais. Mas, como ele vai receber isso ao longo de muito tempo em que o livro vai ficar a venda, e dinheiro muda de valor com o tempo, vamos botar 3 mil reais.

Depois temos dois carinhas chamados revisor e editor, que ajudam a dar forma, organizar e corrigir o texto do autor, para que o jogo tenha mais clareza, coesão e seja mais atrativo para o público. Esses caras, diferente dos autores, recebem adiantado. Então se cada um ganhar apenas metade do autor, 5 centavos por palavra, em um livro de 20.000 palavras, temos mais 2 mil reais de custo. Já temos um total de 5 mil.

A gente gosta de livros bonitos, bem diagramados, com ilustrações bacanas e inspiradoras não né? Então, isto é reflexo do trabalho de designers e ilustradores. Primeiramente, precisamos de uma arte da capa legal! Vou chutar por baixo aqui, uns 500 reais pela capa. Um livro de 64 páginas, vamos botar bem modestamente, umas 20 ilustrações. Com um preço médio de 100 reais cada uma (algumas custando mais outras menos), temos mais 2 mil reais. E a diagramação? 64 páginas? 500 reais de diagramação? Tá barato, mas vamos lá. Temos mais 3 mil reais aqui. O total já está em 8 mil reais.

Agora vamos imprimir o livro né? Temos que pagar a gráfica para imprimir estes livros. Um livrinho de 64 páginas de tamanho mais ou menos A5, em uma tiragem de 1000 unidades, em preto e branco, dá em média uns 4 mil reais em uma gráfica barata. Nossos custos agora então em 12 mil reais. Acabou?

Ainda não. Tem o trabalho invisível da editora organizando tudo isso. Tem o preço da armazenagem, do cara que acompanha as provas de impressão, de propagando para o produto atingir seu público, impostos, custo de ISBN e sei lá mais o quê, a porcentagem que possivelmente plataformas de pagamento cobram e o fato de que o produto tem que ter um lucro para a editora poder continuar. Vamos botar uns 4 mil para tudo isso? Talvez seja bem mais, mas vamos chutar 4 mil. Custo total 16 mil reais.

Então se são 1000 exemplares, é só vender cada um por 16 reais e pronto, né? Foi mal, não é bem assim. Quanto tempo tu acha que demora para vender 1000 exemplares? E com o tempo, esse livro vai entrar em promoções, vão ser doados, e toda sorte de coisas. Os custos têm que ser pagos no mínimo com metade do estoque vendido (na real, idealmente com menos). Ou seja, 32 reais seria o preço do livro para ele ser viável e remunerar minimamente quem trabalhou nele. Talvez seja melhor fazer uma tiragem menor? Mais aí o preço da impressão aumenta.

Agora, eu tenho visto gente falar que o preço justo de um livro de 60 páginas é 15 reais. Foi mal, não é. Seria maravilhoso, mas aí você está contribuindo para que as pessoas não se dediquem a este ofício, ou façam o mesmo de forma amadora, e daí não adianta reclamar que está ruim, a tradução está uma porcaria, a arte é amadora e tal. E as pessoas vão produzir menos material, de menor qualidade.

E fala sério. Quanto que as pessoas não pagam pra ir no cinema por 2 horas? Aqui no Rio de Janeiro está quase uns 50 reais em muitos lugares. Quando a galera vai num bar, passar algumas horas, quanto sai a conta?

Um livro de RPG proporciona muito mais tempo de entretenimento do que qualquer uma dessas coisas. Na real, em termo de entretenimento, não conheço nada com um custo beneficio melhor que RPG. NADA!

Então fica a pergunta, quanto vale o RPG pra vocês?

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6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pra mim, comprar livros é sempre um bom investimento. Principalmente quando é de RPG. Ótimo artigo Diogo!

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  3. Eu acho bem zuado ver pessoas da comunidade de RPG lamentando o fechamento de sites de pirataria como a biblioteca élfica.

    Eu virei fã do seu trabalho, Diogo, depois de comprar o Espadas Afiadas. Peguei o PDF de graça usando o Pague o que quiser do site da Pensamento Coletivo e depois de devorar o livro, já tratei de comprar a versão física.

    Eu ando cada vez mais impressionado com a qualidade dos trabalhos dos autores nacionais. Espadas Afiadas, Old Dragon e Goddess Save the Queen são sistemas geniais!

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  4. Somos autores de material literário deveríamos poder viver disso.

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  5. Genial! Parabéns pela ótima análise.

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  6. textaço pra acordar os ingênuos e valorizar o rpg nacional!

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